segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tudo tem um começo (será???)

Há dois anos, em uma sala de aula, começava a mudar minha maneira de pensar. Tinha um professor, Márcio Estrela, que começara ali, sem querer, um trabalho de lapidação na minha personalidade reflexiva. Eu observava um diálogo dele com um aluno –o qual reproduzirei com falhas, mas manterei sua essência- e gostaria de compartilhar com todos. Diziam eles:

Aluno: "Professor, na minha visão, o tráfico, a criminalidade e a miséria estão concentrados nos grandes centros populares, como as favelas e os morros. Não há mais solução para isso no Brasil. Essa demagogia de que há muita gente do bem lá e, por isso, as investidas policiais devam ser comedidas, é um erro. Com isso há uma inversão de valores e os policiais, por matarem inocentes, tornam-se os culpados de tudo”
Márcio: "Mas você concorda que pessoas de bem devem morrer para isso?"
Aluno: "Sinceramente, quem está lá está envolvido de certo modo, pois não fazem nada para mudar."
Márcio: "Então, se um governante tivesse o poder de estourar uma bomba lá, matando a todos e “resolvendo” o problema com apenas um botão, ele estaria certo?"
Aluno: "Não acredito que estaria certo, mas vejo essa como a única maneira de eliminar o problema a curto prazo."
Márcio: "E se você estivesse lá, sendo uma das pessoas do bem, concordaria em morrer pela “causa maior”?"
Aluno: "Não estaria lá professor, pois descordo tanto daquele meio que já teria saído de lá para não ser cúmplice".
Márcio: "Então vamos aumentar a lente e analisar o mundo. Responda de forma bem objetiva: em qual continente você vê a maior quantidade de produção e exportação de drogas"
Aluno: "América do Sul"
Márcio: "Em qual você vê a maior pobreza?
Aluno: "África"
Márcio: "Em qual você vê os maiores índices de criminalidade?
Aluno: "América do Sul"
Márcio: "Bom, dos três pontos que você citou como mazelas do país, a América do Sul, em uma visão do mundo, apresenta dois. Para um europeu, nós –a América do Sul- somos a favela do mundo. Então, presumo que você concordaria que eles – os europeus- acionem uma bomba atômica e destruíssem o nosso continente?
Aluno: "Não, pois morreriam muitas pessoas que não tem nada a ver com a história"
Márcio: "Assim como em uma favela?"
Aluno: "É diferente, pois aqui há um país, o nosso, se destacando e progredindo. Contribuímos de diversas formas para os outros países, despontamos em relação aos nossos vizinhos e somos um país em visível evolução!"
Márcio: "E você acha que eles sabem disso? Será que as favelas também não contribuem significativamente para manutenção da nossa sociedade?"
Aluno: "Talvez, mas isso eu não sei responder"
Márcio: "Se você é desinformado em relação ao seu próprio país, como quer que alguém em outro continente saiba que estamos em país em evolução?"
Aluno: "Independente disso, há diversos grupos aqui no Brasil tentando mudar esta realidade"
Márcio: Mas para eles não muda há muito tempo. Será que não pensam como você, ou seja, se você realmente discordasse das ações da América, e fosse uma pessoa de bem, não deveria ter procurado outro continente para morar?"
Aluno: "Ahhh, mas é preciso ter muita grana para morar em um país desenvolvido"
Márcio: "E você acha todos moram em uma favela por opção ou, justamente, por falta de opção?"

Após alguns segundos de reflexão, o aluno concluiu: "É professor, você tem razão. Ao concordar com você percebi que falei algo que eu mesmo discordo"

Não conhecia a retórica Sócrates na época -e talvez nem o meu professor-, porém mais importante que a teoria é a aplicação prática e isto aprendi naquela aula. Questionei-me de quantas vezes me posicionei se analisar minha opinião. Quantas opiniões eu tinha e nem, ao menos, questionar-me de por que as tinha.

Enfim, a partir deste dia comecei a refletir sobre as opiniões que tinha e os posicionamentos que adotava. Mudei da água para o vinho nos últimos dois anos e atribuo a maior contribuição destas mudanças às aulas daquele professor.

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