sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Não acredite em tudo que você ouve



     Se eu pudesse destacar um aprendizado que tive nos últimos anos, seria esse: não acredite em tudo que você ouve. Sempre cheque as informações! Há um abismo entre ser critico e não confiar nas pessoas e estou me referindo a ser critico. Neste caso, o assunto é política. 

     Tenho acompanhando o processo eleitoral à prefeitura de Porto Alegre e chamou-me a atenção dois fatos trazidos pela candidata Manuela D'Ávila: ter sido apontada como uma das 100 parlamentares mais influentes do Brasil e ter uma trajetória política de sucesso iniciada aos 16 anos. Então, fui checar ambas as informações.


100 mais influentes

     Descobri que a lista é feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), um departamento com o objetivo de transformar em normas legais as reivindicações da classe trabalhadora. Ou seja, um departamento de "esquerda", assim como os partidos de "esquerda": PT, PSOL, PSTU, PC do B, etc.
     Resumindo: eles (um departamento de esquerda) elegeram a Manuela (que pertence a um partido de esquerda) uma das 100 mais influentes parlamentares. Algo errado nisso? Só chequei a fonte.


A carreira política

     Acessei o site da candidata e, de lá, coletei as informações sobre sua carreira. Há uma linha do tempo bem bacana lá que ilustra suas realizações, porém a maioria diz respeito a presidir comissões e liderar bancadas. Vamos deixar claro que isso é meio para se fazer bem feitorias. Se disso não resultar projetos que melhorem a condição pública, serviu apenas de palanque. Também encontrei "feitos" como votos em projetos de lei. Ora, parlamentar dizer que aprovar uma lei é uma realização é o mesmo que um frentista dizer que é um profissional diferenciado por que abastece carros.

     Com bastante atenção, encontrei quatro realizações políticas:
     - Foi relatora da Lei do Estágio (lei que assegura novos direitos aos estagiários);
     - Construiu e relatou o Estatuto da Juventude (financiamento estudantil a estudantes de escolas publicas);
     - Foi relatora de Vale Cultura (inventivo a produtores culturais);
     - Apresentou projeto para todos terem acesso a biografias de personalidades brasileiras.


Conclusão

     Nem vou entrar na questão dos 100 mais influentes. Listas que não sejam baseadas em critérios técnicos é um ótimo exemplo para a frase "comparar maçã com banana" (ainda mais quando quando pode haver interesse no meio). Sobre a trajetória política, não concordo que apenas quatro realizações, sendo duas ligadas à cultura e outra a estágio (não que não sejam importantes, mas questiono se são prioritárias), sejam suficientes para serem apontadas como sucesso em uma carreira com mais de 13 anos. Aliás, também questiono se são suficientes para elegerem alguém como prefeito de uma cidade do tamanho de Porto Alegre (embora 21% da população acredite que sim). Portanto reitero a dica que  sigo até hoje: não acredite em tudo que você ouve. Acrescento: não baseie suas decisões em discursos mais do que em fatos.


Foto de Joelma Terto.