sábado, 27 de março de 2010

Caso Nardoni & 12 Homens e Uma Sentença

Tentei manter-me alheio ao julgamento do assassinato da menina Isabela, mas, quando ouvi no rádio o comentário de um jurista de que poderiam estar sendo injustos com os réus, pois eles já entraram no fórum sendo considerados culpados, dediquei um pouco de atenção ao assunto. O jornalista César Tralli, da Globo News e da Rede Globo, disse ter ficado bastante confuso, pois todas as provas tinham sido confrontadas com bons argumentos. Então, lembrei-me de um excelente filme: 12 Homens e Uma Sentença.

O filme mostra o julgamento de um jovem acusado de ter matado o próprio pai. Diversas provas (manchas de sangue na roupa, a arma do crime em poder do réu e testemunhas que o ouviram dizer que mataria o pai) o fazem ser, obviamente, culpado. Porém, antes de entrar na sala de julgamento, os jurados recebem a seguinte orientação: "O réu deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Não tenham dúvida em seu julgamento". Resultado: dos doze homens do júri, apenas um o julgou inocente. Como não haveria unanimidade, outro julgamento poderia ser solicitado pela defesa, o que deixou todos indignados com o homem que “discordava” do grupo. Porém, aquele único homem, um senhor bem velhinho, disse: "Acontece que eu fiquei com dúvida. Não posso mudar a vida de uma pessoa se eu tiver dúvida". A partir daí, ele começa a questionar os jurados sobre o que os levou a considerar o jovem culpado (veja bem, ele não questionou as provas e sim o que levou as pessoas a acreditarem nelas). Então, o filme mostra que todos os jurados haviam analisado as provas e tomado sua decisão com a influência de seus valores pessoais. Ao observarem as provas da promotoria de maneira fria e imparcial, como um jurado deve fazer, todos consideraram o garoto inocente.

Não sei se o casal foi culpado ou inocente (não vou posicionar-me apenas com o que vi na imprensa). Analisando as provas, os jurados os consideraram culpados, no entanto espero que tenham feito o mesmo questionamento do velhinho do filme antes de ter tomado sua decisão.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O Fim dos Livros

Estava lendo a entrevista com o escritor italiano Umberto Eco (muito conhecido pelo best-seller "O Nome da Rosa", publicado em 1980), do Jornal o Estado de São Paulo, do dia 13 de março, na qual ele fala sobre o fim do livro. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança. Concordo com a idéia do autor, de que o livro é como uma colher, mas descordo que eles não mudem. Basta analisarmos a história da colher. No inicio, ela era de osso; depois, passou a ser de madeira; por último, veio a versão de metal. Ou seja, ela muda. E não será diferente com o livro.

Há pouco tempo atrás, a leitura era praticada apenas em locais isolados, tranqüilos, calmos, silenciosos, etc. Ai, com calma, você vai anotando as melhores partes do livro, as melhores idéias e assim vai. Sem dúvida é a melhor forma de ler, mas os tempos são outros. Se em 1960 tínhamos três bilhões de pessoas na Terra; hoje, temos mais de seis! Naquela época, uma pessoa sem ensino fundamental era apenas mais uma. Hoje em dia, é um desempregado. Com tanta gente no mundo, a competição ficou acirrada e, por conseguinte, não podemos esperar para ler apenas quando estivermos em um local calmo e sossegado. Precisamos aproveitar cada minuto e por isso afirmo que os livros irão evoluir.

Você já quis viajar e levar um livro junto? Ou você escolhe bem o livro, ou você leva uma mochila só para eles. Alguns, até gostaria de aproveitar o tempo de translado para ler, mas se você estiver de ônibus, terá de convencer o "motora" a ligar a luzinha (quando ela funciona); se tiver de carro, terá de convencer a todos que as luzes devem permanecer acessas para você ler (é mais difícil que convencer o tio do bus. Uma opção bastante útil é a lanterna. Já que você está levando uma mochila de livros, aproveita e já leva uma lanterna.

Outro exemplo comum é você lembrar-se de algo que leu (uma frase, uma expressão, ou algo do gênero) e não lembrar em qual livro leu. Como pesquisar? Se não encontrar nada com a ajuda do Google, tente pedir socorro aos amigos Nerds. Uma alternativa desesperadora seria sair folheando diversos livros na esperança de que as palavras lhe dêem um insight.

Os livros digitais são respostas aos "problemas" modernos. Em um aparelho com tamanho de uma agenda e espessura de um livro de 20 páginas, você consegue armazenar mais de 1000 livros. Se quiser ler no escuro, apenas aumente o contraste da tela. Se lembrar de algo que leu, vá ao menu pesquisa, digite a frase e ele irá procurar em todos os 1000 livros esta referência. Sem mencionar outros ganhos indiretos: iremos parar de derrubar árvores, economizaremos espaço (imagine o espaço para guardar 1000 livros), o custo de impressão irá desaparecer e eles se tornarão mais baratos, etc, etc, etc.

O livro ainda está na sua primeira versão (a impressa) e em breve teremos a próxima (a digital). Não há como fugir. A nossa necessidade fará desta mudança inevitável. A propósito: será que os escritores que defendem os livros impressos ainda usam caneta ou máquina de escrever para redigir seus livros? Talvez, a necessidade deles os tenha feito mudar de tecnologia também.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Se o RJ quebrar, a culpa será da falta dos royalties?

Todo este caso de petróleo, royalties e pré-sal têm me deixado confuso. De um lado, o governador Cabral chorando (literalmente, aliás, isto deve estar na cartilha de persuasão dos governadores do Rio de Janeiro como iniciativa primeira) e alegando que seu estado irá "quebrar"; de outro, os demais estados (com exceção a SP) alegando que a partilha não é justa. Após minha aula de ontem, dediquei alguns minutos para entender o assunto e criar minha opinião e gostaria de compartilhar ambos com vocês.

Royalty é um valor cobrado pelo proprietário de uma patente que detém o direito exclusivo sobre determinado produto. No caso do petróleo, os royalties são cobrados das concessionárias (Petrobrás e Shell) que exploram a matéria-prima. De acordo com a legislação brasileira, a divisão atual é de 40% para a União, 22,5% para Estados e 30% para os municípios produtores. Os 7,5% restantes são distribuídos para todos os municípios e Estados da federação. A justificativa para esta diferenciação é que essas localidades, em tese, têm mais gastos com infra-estrutura e prevenção de acidentes do que as demais. A nova proposta, apresenta pelos deputados Pinheiro (PMDB-RS), Humberto Souto (PPS-RS) e Marcelo Castro (PMDB-PI); é de que 30% dos royalties sejam destinados aos Estados, 30% aos municípios e 40% à União, sem tratamento diferenciado para os produtores, partindo do principio constitucional de que o território oceânico é federal e que os estados produtores não têm gastos com infra-estrutura que justifique estas arrecadações.

Como citei anteriormente, o governador do RJ alega que os royalties são imprescindíveis para que o estado não "quebre". Será mesmo? Como não encontrei uma resposta, pesquisei.

No site do ministério da fazenda há uma relação de quanto os estados arrecadam de tributos (vejam bem, aqui, os royalties não são considerados). Cruzei esta informação com a quantidade de habitantes extraída do Wikipedia (é claro que eu comparei estes dados com o site do IBGE, mas no Wikipedia já estava em formato de tabela e ficou mais fácil de jogar para o Excel) e cheguei aos seguintes valores:


O que faz o RJ e o ES estarem entre os primeiros deste ranking não é apenas a sua quantidade de indústrias (que é baixa, comparada com outros estados), mas sim a Petrobrás. A estatal é a sua maior geradora de receita em forma de tributos (impostos e obrigações repassados aos estados). Ou seja, estes estados já são recompensados pelos "danos" (se é que eles existem, pois nem o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, conseguiu explicar quais são) da Petrobrás. Sem mencionar o desenvolvimento gerado na região que recebe empresas deste porte.

De acordo com a tabela, mesmo sem considerar os royalties, o estado do RJ arrecada 5,16 vezes mais do que o estado de MG. Então, por que MG não está "quebrado"? Porque MG éum estado bem administrado. É justamente isso que o dinheiro dos royalties esconde: a má administração do RJ. Se, com todo este dinheiro de arrecadação e de royalties, o RJ é um caos, imagina se tirar os recursos do segundo. Ai, os governantes do estado terão de trabalhar e, pelo visto, não é isso que eles pretendem.

Portanto a divisão dos royalties é absolutamente justa, não somente pelo mar pertencer à federação, mas também porque a Petrobrás, por ser estatal, é mantida com os recursos de todos os brasileiros. Milhões foram investidos para que ela alcançasse a tecnologia de extração do pré-sal e esta conta não foi paga apenas pelo RJ ou pelo ES. Nada mais justo que o investimento feito por todos retorne para todos. O governador do RJ sabe que sem este recurso ele precisará administrar seu estado tal como os demais: apenas com os recursos arrecadados em forma de impostos. Com a bagunça administrativa que é o RJ, ele também sabe que isso não será possível. É mais simples organizar shows e chorar em público do que justificar o porquê do seu estado ter quebrado, mesmo com arrecadação de 5,16 vezes maior do que MG.

domingo, 7 de março de 2010

CRISE = DECISÃO + OPORTUNDIADE

Tenho uma amiga que está atravessando um momento de crise. Até então, ela morava em uma região pacata de Florianópolis com seu marido, funcionário público de uma grande estatal. Sem dúvidas é o sonho da maioria dos casais. Tudo ia bem até que ele a chamou para uma conversa na qual lhe informou que não queria mais manter o relacionamento. Sem mais explicações, ela viu sua vida girar em 180º. Precisava agora, de um novo local para morar, de um emprego e de constituir sua própria carreira. Ou seja, uma situação de crise.


Para nós ocidentais, a palavra crise vem do Grego krísis, que significa momento crítico e de decisão. Para os chineses, o ideograma que representa a crise é junção dos ideogramas oportunidade e perigo. Pensando bem, acho que ambos estão certos.

Há alguns anos, eu trabalhava (estagiava, melhor dizendo) como técnico de informática em uma empresa terceirizada no Pólo Petroquímico de Triunfo (RS). Ganhava apenas o suficiente para pagar meu curso na Ulbra, cujo objetivo era manter este estágio. Pois é, gostava da minha vida, apesar de não ver muito futuro nela, mas tinha meus amigos por perto e confesso que sobrava grana para umas festas. Até que, um dia, fui demitido. Estava diante de uma crise, pois não tinha mais dinheiro e a região não proporcionava muitas opções de emprego (sem contar que tive de trancar o curso). Mudei para Porto Alegre, onde moro até hoje. Resumindo a história, terminei meu curso na Ulbra e hoje sou aluno da UFRGS e gerente de projetos em um grupo empresarial com mais de 4000 funcionários.

A crise trouxe-me a OPORTUNIDADE de trocar de cidade (certamente não teria tomado esta DECISÃO se não fosse a necessidade). Em relação a minha amiga, hoje ela já conseguiu um novo local para morar e conseguiu um novo emprego. Sem dúvidas, ela, assim como eu, ingressará em uma vida melhor e com novos horizontes (desde que continue encarando a crise da forma correta).

Não estou sugerindo que sejamos positivistas ou otimistas, mas apenas que as crises sejam encaradas de acordo com o seu significado. É um momento crítico, de oportunidades e no qual precisaremos tomar decisões. Reflita sobre suas crises e perceberá que só as contornou quando as encarou desta forma.

sábado, 6 de março de 2010

Falta de talento não justifica seu insucesso.

Christopher Gardner, em sua biografia, mencionou que a frase mais repetida ao seu filho era: "Nunca deixe que alguém diga que você não é capaz". A frase, além de forte, está absolutamente correta. Qualquer pessoa pode desenvolver qualquer habilidade. O que varia de uma pessoa para outra é a necessidade de dedicação para isto.

Criamos alguns termos como talento e inteligência, apenas para justificar nossos insucessos. Quando não conseguimos algo é muito mais fácil dizer que não somos tão inteligentes ou tão talentosos quanto os que nos superaram, do que admitir a falta de dedicação. Também há uma “convenção temporal”para tudo, e isso é terrível. Se o aluno não aprender calculo no período de um ano letivo ou um semestre, é por que ele é incapaz. Se um adolescente não aprender a andar de skate em três meses é por ser inapto. Se uma mulher não aprender a tocar violão em seis meses, deve desistir. Quem cria estes padrões, ignora heranças genéticas! Calma, eu explico.

Toda habilidade se desenvolve a partir da repetição.Nascemos com heranças genéticas que nos facilitam determinadas habilidades. Já perceberam como é comum o filho ou o sobrinho se tornarem bons naquilo que seu pai ou tio faziam? Que, por vezes, exercem a mesma profissão com semelhante ou superior êxito? Isso acontece porque eles herdam parte da habilidade de seus "cladogeneses superiores ".

Vou criar uma unidade de medida para facilitar a idéia. Digamos que, para se tornar um músico talentoso, você precise de 100 habilidades. O filho de um músico poderá (veja bem, nem sempre herdamos as habilidades) nascer com 70 habilidades, enquanto o filho de um mecânico, por exemplo, cujo pai sabia tocar apenas "Parabéns para você" no violão, nascerá com 10. Portanto os dois terão necessidades de preparo completamente diferentes. Talvez o filho do mecânico leve 20 anos para ter a mesma habilidade que o filho do músico conseguiu com apenas alguns meses de preparo, mas isso não o torna incapaz. Apenas precisará de mais esforço.

Enganam-se os que pensam que fazemos bem aquilo que gostamos. Na verdade, nós gostamos daquilo que fazemos bem e por isso, diante do nosso insucesso, tendemos a desistir. Respeitamos a porcaria da “convenção temporal” e, quando a ultrapassamos este prazo, não temos mais “desculpa” para justificar nossa falta de habilidade. Geralmente, utilizamos bobagens como "não nasci para isso" ou "não tenho talento para isto" e desistimos. Basta entender que as pessoas são diferentes e que precisar de prazos diferentes para se desenvolver.

Portanto, se realmente quer fazer algo, não aceite padrões! Se lhe disserem que já o faz a tempo suficiente para ser bom, ignore esta idéia caso ainda não seja. Nem sempre a habilidade será desenvolvida pelo caminho do menor esforço e não desista por isso. Somos capazes de fazer qualquer coisa, principalmente quando nos dizem que não somos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

"Comer carne ou não? De que lado você está?"

Assisti, há poucos dias, um documentário de vegetarianos condenando a utilização da carne como alimento. O nome do programa era "Comer carne ou não? De que lado você está?". Vi uma senhora chamar de covardes e de desalmados aqueles que matam animais para se alimentarem de suas partes (seja a carne, seja seus órgãos) e "obriguei-me" a refletir sobre o assunto.

Quando comecei a pensar sobre os hábitos carnívoros, senti-me culpado. É um pouco cruel perceber que matamos seres vivos para nos alimentar. Porém, a boa reflexão precisa externar às culpas, ser fria na analise e racional com os fatos. Então, pergunto: está errado matar um ser vivo para comer sua carne? Ou melhor: está errado matar um ser vivo para comer-lhe as partes (afinal, era isso que a vegetariana entrevistada afirmava estar errado)? Para responder a pergunta, precisamos analisar o porquê agimos desta forma e necessitamos classificar o que é um ser vivo. Então, vamos à análise e utilizarei a biologia para fazê-la.

Como não somos autotróficos (seres que produzem seu próprio alimento) precisamos nos alimentar de um ser vivo (seja uma planta, seja um animal). Uma girafa devora uma folhagem com a mesma voracidade que o leão dilacera uma zebra. Nós, humanos, atacamos os dois reinos. Portanto a nossa sobrevivência depende da morte de outros seres e por isso os comemos, pois queremos continuar vivos (esse papo lembra um pouco a geladeira Família Dinossauro). Agora, vamos à classificação.

Simplificando um pouco, a biologia define como ser vivo a entidade que possuir produção celular e atividade metabólica. Logo, uma planta como o trigo e a alface são seres vivos. Quando um vegetariano come um pão ou se alimenta de uma alface ele está comendo parte do corpo de seres vivos. Também não estaria errado? Qual a diferença entre uma planta e um animal?

Uma planta não possui olhos, nariz e boca. Suas funções metabólicas, em alguns casos, são realizadas por raízes (alimentação) e folhas (respiração). Nossas fibras musculares (nossa carne), podem ser comparadas aos tecidos de sustentação das plantas. Isso tudo, para nós, humanos, não é comum. Defendemos (neste caso, os vegetarianos) os animais  pela familiaridade que temos com eles. Não vemos um chá de folhas como um suco de pulmão, assim como não imaginamos que um aipim frito possa ser comparado com boca ou língua frita, e a estranheza causada por estas comparações é que embasa a idéia de que não nos sentimos familiarizados com os vegetais.

Após esta análise e esta classificação concluí que os vegetarianos não são contrários a tirar a vida de um ser para se alimentar de uma parte dele. Sua bandeira é: "não tire a vida de um ser semelhante a você, apenas o faça com aqueles que não encontrar semelhança". Talvez eles não saiam por ai exclamando isto, mas agem desta forma.