domingo, 15 de abril de 2012

Um dia, eu superei o Birinha!


     Quando criança -não mais do que 10 anos de idade- havia uma pista de BMX próxima a minha casa -na verdade mesmo, era um terreno baldio que nós, a criançada, tinhamos tomado conta, cortado o mato e construído uma pista-. Era muito divertido aquilo. Corríamos entre uns 12, no mínimo.  Organizava-nos em times de dois “infanto-atletas”. O meu parceiro de equipe era o Fábio. Éramos muito bons, porém nunca ganhávamos do time do Birinha. Não lembro quem era o outro integrante da dupla do Birinha, mas isso pouco importa. Quem ganhava mesmo era ele, o Birinha. Sempre chegávamos em segundo. O vencedor de todas baterias era ele, sim, o Birinha.

     Um dia, um amigo que não corria conosco apareceu na pista e pediu para correr. Como precisava ter uma dupla para isso, o Fábio permitiu que ele corresse comigo. O nome deste amigo era Alexandre, o Cabeça. Na primeira corrida ele só observou e quis dar o meu melhor para ele ver que teria um parceiro de peso na sua recém formada equipe. Fiquei na melhor posição possível: segundo lugar -o primeiro, é claro, era do Birinha-. Então, entusiasmado com a minha "vitória" fui conversar com o Cabeça e, para minha surpresa, ele estava irritado comigo.

     Sim, ele se aproximou e, em uma memória ainda colorida para mim, disse: "Por que não passou??? Ficou passeando atrás do cara ao invés de passar!!!" e eu respondi "Ora por que não passei? O cara é o Birinha!". "Grande coisa ser o Birinha! Vou te mostrar como se faz", respondeu ele. Então, o Cabeça pegou a bicicleta, foi para um bateria contra o Birinha e, para surpresa geral dos competidores, ele ganhou a corrida!!! Sim, o Mito havia sido batido. Após ganhar, ao invés de dar oito voltas olímpicas, fazer dancinha e tudo mais, o Cabeça apenas caminhou para a minha direção e disse "Viu cuzão! É só passar o cara e não ter medo". Depois daquilo, eu e o Fábio nunca mais perdemos para o Birinha.

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     Semana passada, ministrei um Workshop/treinamento para uma equipe lá da RBS. Basicamente eu falava como o profissional deve se portar diante de uma demanda -seja um projeto grande ou seja um projeto pequeno-. Como deviam questionar e não ter receio de não conseguir entregar. Algo, no meu entendimento, normal. Uma das colegas que participou veio até mim e disse "Júnior, este treinamento mudou a minha vida! Concordo com tudo que você disse e percebi que não estava agindo da forma certa. A partir de agora tudo vai ser diferente”. Pensei para mim "Ela poderia ter feito isso sem eu ter falado nada. Mas é interessante como as pessoas, muitas vezes, têm potencial para algo e não o fazem até que alguém lhes diga que são capazes e lhes demonstre que é possível fazer".

     Estava eu, orgulhoso por ser um cara que nunca precisou que me dissessem que eu era capaz, pois sempre encarava meus problemas sem medo. Considerando-me "fodão" por ter nascido assim. Então lembrei de como consegui superar o Birinha.

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     Moral da história: você sempre precisará de ajuda para superar seus medos e enfrentar suas dificuldades -mesmo sendo capaz de fazer isso-. A diferença está em quando aparecerá uma pessoa na sua vida disposta a lhe ajudar ou quando você dará ouvidos a ela. Se você pensar diferente, acreditando que nunca precisará de ajuda e ignorando aqueles que estão dispostos a de fato lhe ajudar, você corre o risco de estar chegando em segundo e considerando isso uma grande vitória.