sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Perdemos o melhor Pirata.

   
  Em 2003, quando fazia minhas primeiras aulas sobre sistemas e redes de computadores na Ulbra, um professor decidiu apresentar um filme para a turma: "Os Piratas do Vale do Silício".
    
     O filme é tão clássico para quem é de TI, quanto o Woodstock foi para os hippies. Lembro que após assistí-lo fiquei impressionado com duas coisas: o quanto a adaptação feita da frase de Lavoisier (na vida nada se cria, tudo se copia) fazia sentido e com o tal do Steve Jobs. Falei para o professor "como pode? Esse tal de Jobs então que é o gênio da nossa época e não o Bill Gates???. Tá certo que ele também copiou ideias, mas ele pode dizer que foi copiado pelo Bill Gates!". Fiquei tão impressionado com o cara, que sai catando tudo sobre ele. Fosse em livros ou na internet, cada novidade que lia sobre ele me deixava ainda mais impressionado (isso que eu mal poderia imaginar que ele ainda iria provocar uma i-revolution digital).

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     É claro, como era de se esperar, também descobri que ele passou longe de ser uma unanimidade como pessoa. Inclusive, há uns quatro anos, quando um de meus melhores amigos, o Tibério, se formou em Análise de Sistemas, eu o presenteei com um livro do Steve Jobs dizendo "leia e faça como ele faz: aproveite apenas as boas ideias e ignore a parte podre". Mas para isso eis que o tempo será o agente da limpeza, assim como o fez com o Einstein, jamais lembrado como aquele que espancava a esposa.

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     Meses atrás, conversava com a minha colega Jaque sobre o Steve Jobs. Ela, como uma entusiasta do Androide (sistema operacional utilizado pelos concorrentes do iphone), relutava em admitir que ele fosse um gênio e lembro-me de ela ter dito "mas não foi ele quem inventou a tela sensível ao toque". Sim, não foi ele, respondi, mas foi ele sim quem juntou esta tela, que todo mundo tinha acesso, com mais um monte de ideias, que qualquer um poderia ter tido, e criou um produto líder de mercado, que ninguém havia criado até então.
    
     Pense bem: quando você acessa o Windows, você não usa o menu iniciar. Aliás, salvo o caso em que precisa desligar a máquina. Enfim, o que você usa mesmo são os ícones que criou ou que já vieram com o Windows. Além disso, se você usasse uma tela sensível ao toque em um computador, você eliminaria a necessidade de teclado e mouse, ficando apenas com o monitor. Pronto! Temos o iphone e o ipad! Uma tela sensível ao toque, logo, sem teclado e sem mouse, sem menu iniciar e apenas com os ícones. Depois disso, é claro, foi só acrescentar uns efeitos bacanões para reduzir tamanho de tela e rolagem com os dedos. São ideias como essas que fazem da simplicidade o único pré-requisito para genialidade! 

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     Foi um dia triste. Na informática, campo que escolhi para atuar profissionalmente, ele foi uma essoa que me inspirou muito. Ele me ajudou a esclarecer conceitos como inovação e simplicidade.
     Encerro com um texto de Walter Isaacson, escritor da biografia autorizada que será lançada em breve, e que sintetiza exatamente o que eu pensava de Jobs:

Embora não tenha inventado muitas coisas de cabo a rabo, Jobs era um mestre em combinar ideias, arte e tecnologia de uma maneira que por várias vezes inventou o futuro. Ele projetou o Mac depois de apreciar o poder das interfaces gráficas de uma forma que a Xerox não foi capaz de fazer, e criou o iPod depois de compreender a alegria de ter mil músicas em seu bolso de uma forma que a Sony, que tinha todos os ativos e a herança, jamais conseguiu fazer. Alguns líderes promovem inovações porque têm uma boa visão de conjunto. Outros o fazem dominando os detalhes. Jobs fez ambas as coisas, incansavelmente.