segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Saúde Mental

Texto escrito por Rubem Alves (Teólogo e Psicanalista), sobre Saúde Mental.
(Recomendo muito a leitura e agradeço a minha amiga Romilda pela dica!)



"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.

Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.

A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.

Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.

Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram."

sábado, 28 de novembro de 2009

Instinto de Defesa


O instinto é uma espécie de inteligência primitiva e foi fundamental para a manutenção de nossa espécie. Nossos primeiros ancestrais homínideos não eram dotados de muita inteligência e, neste caso, lá estava o bom e velho instinto para lhes dizer o que e quando fazer (nunca como fazer e por isso as formas irracionais de agir). Adentro um pouco no campo da psicologia, mais por atrevimento do que por preparo, e concluo que continuamos dependendo do instinto para sabermos quando devemos agir, porém, nossa sapiência já nos confere direito de decidir o que e como reagiremos aos nossos instintos. Isso se aplica a todos eles. Aliás, há um instinto que não dominamos ainda: o da defesa.

Todo animal, racional ou não, possui instinto de defesa. Ao sentirmo-nos ameaçados, reagimos. Peça para alguém jogar uma bola de tênis no seu rosto. Por mais que você perceba que ela se move na sua direção em uma velocidade muito lenta para lhe ferir, você não conseguirá recebê-la sem, ao menos, piscar. Isso por que não controlamos o instinto de defesa. Só que nosso instinto ultrapassou o campo da defesa física e adentrou no campo da racionalidade.

Diariamente produzimos material intelectual: apresentações, análises, relatórios e outros documentos no trabalho; seminários, trabalhos de conclusão, trabalhos simples e resenhas para a faculdade; ou até mesmo em casa, utilizando blogs, escrevendo poemas, pintando quadros ou criando artesanatos. Muito de nós (e incluo-me, muitas vezes, neste exemplo), ao perceber sua obra criticada, não conseguem utilizar a critica para aprimorar seu trabalho. Preferem confrontá-la, pois olham para o que produziram e lembram-se do esforço, do empenho, da dedicação e de toda a dificuldade que deu para criá-la, ou seja, se enxergam como parte da obra, passando a deixar a racionalidade de lado e permitindo apenas que instinto de defesa atue. Desculpas, justificativas, discórdia e tudo mais que for preciso para defender uma parte sua. Como qualquer animal que possui apenas o instinto para reagir o faria.

Agindo desta forma, não evoluímos. Não conseguiremos distinguir a critica construtiva da destrutiva. Não permitimos que os comentários sobre nós sejam emitidos perto de nós e tão pouco conseguimos refletir ou perceber nossos erros. Aceitar críticas, ouvir sugestões e reconhecer os erros não são apenass virtudes, são provas da evolução de algumas pessoas. Se você for racional, terá o direito de se defender e não o dever. Portanto, algumas vezes, abra mão deste direito e reconheça que você pode estar errado.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Como resolver o problema...



Concluindo meu último post, ai vai a solução:

"Seja a mudança que você quer ver no mundo"
(Mahatma Gandhi)

Sei que não devemos começar um texto citando Gandhi, Einstein ou Chaplin se quisermos que nos levem a sério em nosso mundo cínico, mas acredito que ainda existem pessoas que concordem com a frase e se esforçam para colocá-la em prática.

Não é o país A ou o país B que precisa mudar seus hábitos, somos nós! Cada indivíduo precisa repensar seu consumo e o seu padrão de vida. Fomos engolidos pelo consumismo estúpido, barato e despropositado. Queremos trocar nossos eletrodomésticos todos os anos, comprar roupas novas todos os meses e consumir comida processada todos os dias, mas, tudo isso, ao menor custo possível.

Por conseqüência disto, a indústria acelera, ignorando boas práticas ambientais, e a agricultura freia, tornando-se um negócio de commodities. Custa muito caro para uma indústria tratar seus resíduos antes de jogá-los em um rio ou em um arroio, por exemplo. Como a preocupação do consumidor é apenas com o preço que irá pagar, o tratamento não é feito (o que reduz o custo da mercadoria). Assim, todos ficam felizes! O comercio realiza a sua venda e nós temos um produto mais barato! Perfeito! Porém, na economia, nada desaparece, tudo se transfere. O auto custo de produção não deixou de existir, apenas não fomos nós que pagamos a conta. Quem paga, na verdade, é o meio ambiente com a sua destruição.

Há uma linha de pensamento que acredita ser do governo a responsabilidade em criar e fiscalizar regras. É ingênuo acreditar que isso resolve o problema. Por que existe roubo de rádio, em carros, se existe lei contra furto e há policiais nas ruas? Porque há babacas que compram rádio roubado. Como o ladrão sabe que vai ter mercado, o risco compensa pela venda garantida. Como a indústria sabe que há mercado para produtos que visam o baixo custo em detrimento da natureza, mesmo que haja leis e fiscalização, eles continuarão a fabricá-los.

Nós! Nós somos a chave da mudança! Precisamos ter interesse em saber como é a empresa da qual estamos adquirindo nossos produtos. Descobrir se suas práticas produtivas são legais e conscientes em relação ao meio ambiente. E isso para todas as compras. Desde a comida diária até o eletrodoméstico necessário. Do não durável ao bem durável. Tudo! Também precisamos nos questionar, antes de comprar qualquer coisa, se aquela compra é realmente necessária ou se estamos comprando algo apenas para nos tornarmos mais aceitos ou mais respeitados, ao invés de suprirmos uma necessidade básica (que deveria ser a origem de nossos investimentos). Ou seja, precisamos deixar de ser tão consumistas.

Enfim, sei que tudo isso é difícil de ser colocado em prática. Meu texto parece piada em um mundo cínico, mas, mesmo assim, continuo concordando com Gandhi.

domingo, 22 de novembro de 2009

PROBLEMA e problema

Digamos que a sua sala esteja extremamente suja. Mas suja!!! Ai, você observa que a origem da sujeira provém de duas fontes:

1º - Há uma pessoa, do lado de fora da sala, arremessando baldes e baldes de barro pela janela, de maneira interrupta;
2º - Há uma pessoa entrando pela porta com os pés sujos de barro.
Em sua opinião, para evitarmos que a sala fique mais suja ainda, o que devemos fazer primeiro?

Se você optar pela segunda opção e utilizar 10 minutos orientado a pessoa dos pés sujos, no mínimo, uns 20 baldes de barro serão arremessados neste tempo. Agora, se você falar primeiro com o nosso amigo do balde, já irá garantir que a sua maior fonte de sujeira interrompa seu "trabalho". Depois, com calma, poderá instruir o homem dos pés sujos e resolver o problema em definitivo.
A menos que você seja americano, você concordará com esta seqüência.

Nos EUA, iniciou-se uma campanha contra o Brasil. Segundo "eles", a matriz energética brasileira (diga-se de passagem, é a mais ecológica do mundo) está contribuindo para o aquecimento global e algo precisa ser feito (acreditem, isso realmente está sendo dito). A alegação é de que cada barragem de hidroelétrica seja responsável pela destruição de centenas de espécies de animais, e a sua inexistências naquela região, provoca um desequilíbrio ecológico que desencadeia em mudanças climáticas graves. Ok, eles não estão errados, mas estamos comparando o cara dos pés sujos com o cara do balde.

Ao invés de barro, centenas de toneladas de CO2 (este sim, responsável direto pelo aquecimento global) são jogados na nossa sala, ou melhor, na atmosfera do nosso planeta, todos os anos.

Em relação a emissão de CO2, o Brasil é responsável por 1,3% do total, contra 24,3% dos EUA. Vamos fazer uma conta simples para entender o tamanho desta "caca".

A ONU, hoje, reconhece 191 países no mundo. Se todos as nações emitissem dióxido de carbono do mesmo modo, a poluição de cada país seria de 0,52% do total. No entanto, se todos poluíssem como o Brasil (1,3%), precisaríamos de 2,2 planetas para mantermos os índices de poluição e ter uma atmosfora como a que temos hoje (isso é ruim, eu sei). Agora, se tivéssemos 191 EUA no mundo (nossa! credo!!!!) precisaríamos de 48 planetas!!!! Isso mesmo, 48!

Sei que o Brasil possui uma série de problemas a serem ajustados em relação a poluição, mas se o objetivo é ajudar a resolver o problema do aquecimento global, vamos primeiro evitar que baldes de sujeira sejam arremessados para depois pensarmos o que fazer com aqueles que, por enquanto, apenas possuem os pés sujos. Se perdermos o foco, nos distanciamos da meta!

Por enquanto, atenho-me a dar uma opinião politico-partidária-indignada. No próximo post, trarei uma solução filosófica para o problema (que, seguramente, se seguida, resolveria o problema).

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Projeto Empatia


O senador Cristovam Buarque, o qual vigora na minha lista de políticos sérios, propôs um projeto de lei, no mínimo, interessante. Eu o chamaria de "Projeto Empatia".

Sua emenda determinaria que todos os agentes públicos eleitos (políticos) matriculem seus filhos em escolas públicas. Embora seja radical demais para ser aprovado, em minha opinião, este projeto obrigaria nossos políticos a perceber o abandono do ensino público.

Com seus filhos matriculados em escolas particulares, de bairros nobres e com infra-estrutura para proporcionar um dia inteiro de atividades, eles não possuem condições de entender que alguns alunos passem o dia em casa, sem fazer nada, por não haver professores para todas as disciplinas. Também, na situação em que estão hoje, não se pode exigir que saibam da falta de segurança nas escolas, mas, ao chegarem em casa e receberem seu filho com um olho roxo por ter sido espancado por um colega, em frente a escola, saberão do que se trata.

Enfim, prefiro concluir este post com uma parte que extraí do próprio texto do projeto de lei do senador:

[...].Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios.



Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos.[...]



Fonte:
http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166

sábado, 14 de novembro de 2009

Boa sorte, ou melhor: Ganbatte kudasai!

Leio muito sobre filosofia, mas ao contrário de alguns leitores deste gênero, não ignoro a contribuição oriental. A filosofia ocidental, sem dúvida, é fascinante, mas o material do oriente consegue ser absurdamente prático. Durante uma parte da minha carreira profissional, tive um líder que contribuiu para essa minha visão. Quando este líder deixou a empresa em que trabalhávamos, conversamos sobre isso durante algumas horas. Ao perceber o meu descontentamento, ele apenas disse: "queria ser japonês para lhe desejar boa sorte, pois, para eles, sorte é o encontro do preparo com a oportunidade e você está plenamente preparado para desafios maiores".

Entendi aquilo como um elogio e pesquisei um pouco sobre o conceito japonês de sorte. Sempre estive ao lado daqueles que exclamam "os japas são foda!" e eles realmente são. Se você buscar a tradução português/japonês para a palavra sorte, encontrará a palavra ganbatte, porém se traduzir novamente a palavra ganbatte para o português, o tradutor retornará esforço! Sendo mais objetivo, os japoneses não acreditam que a sorte possa ser mais responsável pela sua glória quanto o seu esforço.

Para eles, ganbatte não significa um esforço pequeno, mas sim um esforço gigantesco para se obter algo da mesma magnitude. Algo que exija muita dedicação para se obter. Algo do qual você precisará abrir mão de diversas outras coisas para conseguir. Para os japoneses, mesmo que não consigamos alcançar o nosso objetivo, o importante é que tenhamos nos esforçado ao máximo. No Japão, o esforço é mais respeitado do que o resultado. Assim, mesmo quando alguém consegue um resultado satisfatório com um esforço pequeno, os japoneses não consideram uma grande vitória, pois se o esforço tivesse sido maior, o resultado poderia ter sido melhor.

Digo que a filosofia oriental é prática, por razões como estas. Neste exemplo, tudo que você quiser você conseguirá, só depende do seu esforço. No Japão não há lugar para o talento individual ou para a sorte. Eles até podem acreditar que estes fatores possam, de alguma forma, contribuir, mas jamais acreditam que possam determinar a vitória mais do que o esforço.

Portanto, quando for fazer algo realmente desafiador e grande, não se preocupe em ter sorte ou em não ter talento para isso. Apenas ganbatte kudasai (se esforce)!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Você tem colegas ou amigos?

No último post, tentei passar a idéia de que você só saberá se confia em alguém quando a sua confiança for testada. Enquanto você sabe onde a pessoa está e com quem ela está, é muito "simples" confiar. É engraçado, mas as amizades também são assim.

Sabe como descobrir se você tem amigos de verdade? Pense na forma como você os encontra. Por exemplo: se você procura esta pessoa ou é procurada por ela para fazerem alguma coisa, ai você pode afirmar que tem um amigo, no entanto se o que motiva os encontros de vocês é um fator externo (vocês são colegas de trabalho e se encontram todos os dias porque trabalham juntos, por exemplo), ai não se pode afirmar nada. Enquanto o trabalho, a academia, o colégio, a universidade, ou qualquer outra entidade seja a responsável por você encontrar algumas pessoas, é muito "simples" ser amigo delas.

Trabalhava em uma empresa e sempre achei que tinha vários amigos lá. O clima era muito bom e quase sempre saíamos para tomar uma ceva ou para conversar após o trabalho. Sai desta empresa há uns cinco anos e posso usar apenas uma mão para enumerar as pessoas que me ligaram ou me convidaram (ou que eu tenha ligado ou convidado) para qualquer coisa desde a minha saída. Sem mencionar os amigos (ou melhor, colegas) que fiz onde trabalho hoje, que deixaram a empresa e nunca mais nos falamos.

Se há pessoas na sua vida que você considere especiais, não permita que apenas uma entidade seja a responsável por vocês se encontrarem, ou então, quando este elo não existir mais, estas pessoas serão apenas seus ex-colegas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Não é simples confiar!


A confiança, na minha humilde e humana opinião, vigora entre os mais nobres dos sentimentos. Não pela beleza do gesto, e sim pela sua incompatibilidade com uma série de sentimentos ruins, como orgulho, ansiosidade, insegurança, suspeita, preconceito, etc. Mas você confia em alguém ou em algo? Tem certeza? Então, não teria problema em testar isso, correto?

Primeiro, cuidado para não confundir convicção com segurança. Por exemplo: vá a uma fábrica que venda airbags e pergunte ao consultor de vendas se ele confia que alguém, a 120Km, em um carro equipado com o mais moderno sistema de sua fábrica, pode sair ileso de uma colisão frontal. Ele seguramente dirá que sim. Então, diga que você compra se ele entrar em um carro de teste e provar que isto é verdade. Dificilmente ele aceitará a proposta, pois é convicto de que o equipamento funciona, mas não confia nele plenamente. Agora, confiar em "coisas" é algo simples se comparado com pessoas.

Seguido ouço mães orgulhosas dizerem: "Meu filho jamais usaria drogas. Confio nele!". No entanto, a maioria delas controla onde os filhos estão, com quem estão e o que estão fazendo. Assim é fácil! Quem confia de verdade, não precisa de precaução para isso. Também é fácil um homem afirmar que confia na sua mulher quando ela apenas trabalha, não estuda, não tem amigas e passa todo seu tempo livre ao seu lado. Geralmente, este é o tipo de homem que diz: "Confio porque nunca tive motivos para desconfiar". Ridículo isto! Não se pode delegar confiança. Ela precisa partir de você. A mulher que, realmente, confia em um homem, não é aquela que sempre sabe onde ele está, mas a que, quando ele chega de um happy hour, tira um cabelo de sua roupa dizendo: "Hi amor, tem um fio de cabelo aqui. Deixa que eu tiro". Para ela, aquilo não significa nada, afinal, ela sabe que ele não a trairia, pois confia nele.

Por isso que a confiança não convive com sentimentos ruins. Uma mulher insegura, jamais conseguirá agir naturalmente em uma situação desta. Uma mãe segura sabe que já aconselhou e criou seu filho da melhor maneira possível e que, agora, pode confiar nele. Um homem desprovido de orgulho, não se importa que sua esposa esteja com as amigas (onde quer que ela esteja). Se você não permitir que estes sentimentos ruins existam, precisará identificar quando, no que e em quem confiar. Ou seja, confiança é algo complexo que requer evolução, mas não permita que isso faça você desistir: confie!

domingo, 8 de novembro de 2009

O lado postivio da felicidade

Há algo intrigante na felicidade. Trata-se da enigmática alegria daqueles que possuem tão pouco. Sei que dinheiro e felicidade não estão associados, porém como fazer para evitar que uma situação de crise nos deixe demasiadamente preocupados e, consecutivamente, perturbe a nossa alegria?

Tenho um tio que, certa vez, passava por um péssimo momento financeiro. Agricultor, havia feito empréstimos para aumentar sua produção, mas as coisas não saíram consoante planejado. O clima (ou o tempo, já que a característica climática daquele ano não se repetiu) mudou e ele perdeu quase toda sua plantação. Sem colheita, sem dinheiro para pagar os bancos. Resultado: perdeu suas terras, sua casa e precisou da ajuda de seu sogro, outro agricultor, para ter onde morar e com o que alimentar a filha e a esposa.

Naquele ano, eu e meu pai, muito em função da preocupação do meu velho, fomos visitar meu tio. Preparei-me para deparar com a cara da decepção. Pensei na pessoa mais triste e acabada do mundo e sabia que aquela seria a expressão que receberia do meu, até então, sempre alegre tio. No entanto seu comportamento surpreendeu-me. Tratava-se do mesmo Pedro de sempre. Um homem alegre, bem humorado e trabalhador. Intrigado, perguntei-lhe como conseguia ser tão feliz diante daquela situação, e ele respondeu-me: "É que poderia ser pior. Quando achei que tinha azar, na verdade percebi que tinha muita sorte, pois a tia começou a trabalhar ao meu lado como nunca e percebemos que tínhamos parentes que se preocupavam conosco e estavam dispostos a nos ajudar". Sabem o que ele fez? Apenas enxergou o lado positivo da situação.

Há pessoas que precisam ser demitidas para engrenarem a carreira. Há os que precisam perder um parente para perceber o quanto aqueles que continuaram vivos são importantes. Meu tio era um agricultor bem simples quando tentou o empréstimo, antes mesmo de falir. Hoje, é um agricultor forte e muito respeitado na região, sem falar que sua família trabalha ao seu lado como ele nunca imaginou que pudesse ser um dia.

Toda e qualquer desgraça, decepção, má notícia, erro ou desapontamento possuem um lado positivo. Sempre, sem exceção, por menor que possa ser, ele estará lá. Ou teremos algo para aprender, ou estaremos tendo a chance de sairmos fortalecidos. Então, se temos algo positivo (aprendizado) e algo negativo (a dor, o arrependimento, a tristeza, etc) porque ficar com o negativo? Esqueça o negativo. Foque suas energias no lado positivo e poderá superar qualquer crise! A felicidade pode estar na nossa vida, porém, a forma como reagimos aos problemas podem nos impedir de perceber isto.