quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O problema de uma nação "Massa de Manobra"

     O grande problema em sermos uma nação de "Massa de Manobra" é que os políticos não trabalham para as pessoas, e sim para a massa, pois quem manipula esta opinião pública é a imprensa com o apoio econômico das empresas (seus patrocinadores). Não ficou muito claro né? Pois é, então vamos criar um exemplo ABSOLUTAMENTE hipotético para esclarecer o assunto.

     Digamos que as empresas de automóveis sejam grandes patrocinadoras dos intervalos da Rede Globo. Então, o diretor de Marketing de uma destas empresas se reúne com o diretor de publicidade da Globo dizendo que tem se falado cada vez mais das vantagens do uso de transportes coletivos de qualidade, como metrô e como avião, e pede ajuda para evitar que continuem estes comentários, caso contrário a Opinião Pública irá começar a pressionar os políticos para investir nestes meios, o que será prejudicial para as vendas de automóveis e, por conseguinte, ele terá de reduzir as verbas de publicidade. Então o executivo da Globo leva esta informação para a sua reunião semanal com os demais diretores (de jornalismo, de esportes, de mídia imprensa, de portais, etc) e cada um sai dali responsável por fazer o possível. A partir de então não se publica nenhuma reportagem sobre as vantagens dos metrôs e, nos estados em que projetos estão surgindo, eles publicam reportagens e comentários do tipo "enquanto o governo pretende gastar bilhões em um metrô com ar condicionado, vejam estas pessoas aguardando na fila deste hospital". Sobre aviões, eles fazem diversas reportagens dizendo o quanto as pessoas estão descontentes nos aeroportos, com o objetivo de desencorajar quem pretende encarar um nas próximas férias. Além disso, começa uma série de reportagem falando do grande problema nas estradas (obviamente, um meio necessário para a circulação de veículos), e da abusiva taxa de IPI dos automóveis. Meses depois, o ministério do planejamento anuncia diversas obras de infra-estrutura e o ministério da fazenda anuncia a redução de IPI dos automóveis. Por fim, a emissora vende isso como "atenderam ao pedido do povo". Como viram, um exemplo meramente hipotético.

     Reparem o problema: as empresas controlam a mídia (pois são elas que pagam por publicidade), a mídia controla a Opinião Pública e os políticos precisam da Opinião Pública para se eleger. Logo, eles não farão o possível para desempenhar o melhor papel como político (honesto, correto, justo, etc) ou para produzir as principais melhorias para a população, pois se fizerem isso não serão eleitos. O que eles precisam fazer para isso é apenas agradar a Opinião Pública. Os bons políticos então, aqueles que realmente se candidatam para fazer algo de bom, sabem que terão de fazer parte do sistema (vista grossa para desvios de verbas, fornecer favores para a mídia ou diretamente para as empresas, etc) caso contrário a Opinião Pública se voltará contra eles e então perderão as próximas eleições (e, ai sim, não poderão fazer nada para ajudar!).

     Mas há uma forma evitar que nos tornemos massa de manobra (explico no próximo post).

Para quem acha que eu possa estar exagerando com esta história de empresas controlarem a mídia, dêem uma olhada neste vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Gw1DC01AeJs&feature=related

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Você é "Massa de Manobra"!

     Quer saber por que você é “Massa de Manobra” (uso o termo entre aspas, pois, hoje em dia,
ele é uma adaptação da proposta inicial de Bourdieu)? Vamos testar com apenas uma pergunta:

1 - Qual é a cidade com o trânsito mais problemático do Brasil?

     Para todos que eu faço esta pergunta ouço sempre a mesma resposta: São Paulo. Acredito que você também tenha chegado a mesma conclusão sem ao menos ter estado lá, que dirá dirigindo lá. Bom, mas se já dirigiu e acredita que isso é suficiente para afirmar, pergunto a você se, apenas para criarmos um parâmetro, alguma vez você precisou pegar a BR-116 no trecho de Canoas-RS às 18h? Ou então já passou, neste mesmo horário, pela Rótula do Abacaxi ou pela Av. ACM em Salvador-BA? Não? Eu já precisei dirigir nos três lugares e afirmo que são tão ruins (ou piores) que os trechos mais caóticos de São Paulo (Bandeirantes, marginal Tietê e Marginal Pinheiros), nos quais eu também já dirigi. Mas a culpa não é sua por pensar como a maioria pensa.

     O que leva as pessoas a responderem de "bate-pronto" esta pergunta é a imprensa. Ela martela diariamente que a capital paulista esta engarrafada. Faz boletins matinais para informar como está a situação do trânsito naquelas avenidas e, com muita frequência, faz matérias especiais sobre o problema e, por conseguinte, faz com que todos pensem que lá é o pior lugar do país para se dirigir. Tudo por uma questão de interesse.

     Para quem não sabe, estas avenidas de São Paulo são as principais vias para se chegar à Rede Globo, à Rede Record, à Bandeirantes, ao aeroporto de Congonhas e a um monte de outros lugares que pessoas "importantes" precisam chegar. Então a imprensa, que ajudando estas pessoas “importantes” também será ajudada (em uma lógica muito comum de qualquer empresa que visa o lucro), utiliza seus meios de comunicação para criar uma "Massa de Manobra".

     Se conseguirem que a "Opinião Pública" (vulgo "Massa de Manobra") compre a idéia de que lá é o pior trânsito do país, logo todos irão falar sobre isso, todos os noticiários irão reiterar o assunto e, todos os jornais irão publicar mais e mais matérias a respeito e, tão logo também, um político surgirá para construir um Rodoanel aqui, uma Ponte Estaiada ali, uma ampliação da Bandeirantes acolá, etc, etc e etc. Resultado: os políticos ganham imagem, as pessoas “importantes” ganham melhorias (e, é claro, todos os outros que tem a sorte de utilizarem os mesmos recursos das pessoas “importantes”) e o restante da população ganha apenas um projeto do PAC.

     Se o problema em se tornar “Massa de Manobra” fosse apenas o foco das obras de infra-estrutura, “tudo bem”, poderia pensar a maioria, acontece que, no momento em que a população dá este poder à mídia (apoiada pelos “importantes), ela cria uma série de problemas para ela mesma! (amanhã publico um post explicando quais são estes problemas).

sábado, 13 de novembro de 2010

Qual é o maior problema do mundo?

     Na noite do dia 28/10, logo após escrever o meu último post aqui do blog, fui jogar um futebol e...
...rompi o Tendão de Aquiles do pé esquerdo. Pois é, justamente um dia antes de eu entrar de férias. A propósito: um dia antes de eu ir para Santa Catarina surfar e curtir um tempinho livre! Tudo marcado, reservado, comprado e isso acontece. Passei a sexta-feira lamentando o meu azar e com a mais absoluta certeza de que era a pessoa mais azarada do mundo (principalmente depois do médico ter dito que eu ia ficar até o final de dezembro de "molho" sem poder colocar o pé no chão). Bom, uns dias depois deste lamento, lembrei-me de algo que Michel J. Fox escreveu sobre como cada um encara seus problemas e criei uma metáfora para explicar melhor a idéia:

     Um bondoso homem que trabalhava na Cruz Vermelha como médico, ao longo de sua jornada por diversos países necessitados, anotava cada situação de flagelo que testemunhava: fome, epidemias, refúgio de guerra, genocídios, etc. Após 20 anos de trabalho e diversos problemas em sua lista, ele decide definir qual é o pior deles. Para tanto, juntou fundos e reuniu um habitante de cada local por onde passou e pediu que cada um observasse a lista e anotasse em uma folha qual era o pior problema, assim, o pior seria aquele que fosse anotado mais vezes. Então, quando ele coletou as anotações ele presenciou o fracasso da sua iniciativa: cada um anotou o próprio problema que vivenciou. Embora a pesquisa do médico não tenha chegado a conclusão esperada, ela foi fundamental para outra conclusão: por mais que nossa situação nem sempre seja favorável, o que a torna pior é acreditarmos que estamos diante do maior problema do mundo.

     Por mais que o mundo esteja cheio de problemas, tenderemos a considerar o nosso o maior deles. Isso parece nos dar força, uma vez que estamos "combatendo" um rival poderoso (o nosso problema), porém considerá-lo grande (o maior do mundo) apenas torna tudo pior. Desde quando para superar um adversário temos de considerá-lo grande? É preciso entendê-lo e saber o que fazer para combatê-lo. Tratando-se de problemas, precisamos aceitá-los e fazer tudo que estiver ao nosso alcance para superá-lo ou para conviver com ele.