sexta-feira, 23 de julho de 2010

Limonada na lata!

     Na ultima semana, um assunto polêmico voltou à discussão aqui no sul. Trata-se das "Escolas de Lata", como ficaram conhecidas. Para contextualizar o assunto, em Setembro de 2008, um incêndio atingiu algumas salas de aula da Escola Estadual Ismael Chaves Barcellos. A solução que o governo deu para evitar o atraso nas aulas, que iniciavam em fevereiro, foi de instalar contêineres gigantes transformados em sala de aula de maneira provisória (aquele conhecido "provisório permanente"). Os movimentos de esquerda aproveitaram o momento para alvejar a governadora de críticas. Bom, acontece que, na última semana, a avaliação Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), uma espécie de exame que avalia as escolas de 1º a 4º série da rede estadual, avaliou que uma das turmas que tem suas aulas ministradas no polêmico contêiner foi a quarta melhor do estado! E isto nos leva a uma série de reflexões.

     Boa educação não se constrói mais com infra-estrutura do que com conteúdo. Já ouvi educadores defenderem que não há como as escolas publicas serem superiores às escolas privadas em virtude da diferença de infra-estrutura que elas dispõem. Que bobagem! Não se pode associar boa educação apenas com isso, ou então determinar este fator como o de principal influencia. A diferença fundamental está na qualificação dos professores, no comprometimento dos pais e no plano de ensino da instituição. Esta foi a fórmula utilizada pela escola que obteve o êxito no exame do Ideb.

     Outro ponto importante a se refletir: por que o governo foi tão criticado por utilizar contêineres? Por causa da precariedade? Não deve ser, ou então os críticos desconhecem as condições das escolas do interior. Avaliem vocês mesmos como são as acomodações "enlatadas":



     Não quero dizer que a idéia deve ser adotada para todas as escolas, mas temos de concordar que estes contêineres são muito mais apropriados do que boa parte das escolas estaduais do interior. Bom, se é evidente que há muitas, mas muitas escolas; e, por conseguinte, muitas crianças; em condições infinitamente piores no estado, os movimentos de esquerda não deveriam focar nestas se realmente desejam lutar pelo interesse das crianças? Acontece que precariedade no interior é algo que já nos acostumamos e aprendemos a conviver, porém crianças em "escolas de lata" é novidade, e ai vende espaço na mídia! Deste modo, estes movimentos legitimam que não estão agindo em defesa dos que mais precisam e sim daqueles que lhes renderem o "ibope" desejado. Tanto é que abandonaram a causa quando a mídia começou a noticiar a "meritocracia em ensino público". Percebam como a maioria dos movimentos de esquerda (não todos, pois há muitas pessoas sérias atuando) está presente nos assuntos polêmicos e como deixam de dar espaço (em seus manifestos, em suas panfletagens ou em seus sites) para assuntos ignorados pela mídia. Apesar deste apoio flutuante, muitas pessoas se deixam influenciar e definem opiniões com base no que dizem.

     Por último, temos de analisar a posição desta escola que, apesar da dificuldade, obteve tal rendimento no exame. En tinha um amigo que sempre dizia "Deram-lhe um limão ao invés de uma laranja? Faça uma limonada!"

2 comentários:

  1. Bem Júnior, li seu texto e sei que vc fala que conhece educadores que falam mal das escolas publicas etc. Sei que tem a informçao de que esta escola do container foi a quarta melhor. Mas a experiência que tive em escolas públicas, me permite lhe dizer:
    qualquer resultado que exista e manipulado. ja comentei aqui que nos educadores eramos obrigados, cogidos, ameaçados a aprovar no minimo 60 % das turmas, mesmo que ela tivesse 90 % de seus alunos reprovaos. Não era incomum alunos acabaraem a quarta serie, e chegarem a quinta semi ou tatalmente analfabetos. A grande maioria dos profes ate quarta sao oncursados a anos, nao existe mais paixao na funçao. E pior, só possuem o magisterio, e aqueles alunos que sao um problema, são empurrados para o proximo professor para se livrar do problema.
    O que interessa são as estatisticas entregues ao governo para depois ser divulgado, como se a educaçao tivesse progredido. Mas isso nao é algo atemporal, no tempo e nossos pais, e ate no meu tempo, as escolas publicas eram as melhores, como o Instituto de educaçao ou a escola julio de castilhos.
    Hoje, nao existem escolas publicas renomadas, com exceçao do Colégio de Aplicaçao, que é federal....perspectivas muito diferentes.
    Nao descreio seu texto, mas sim a informaçao que você usou, ela vem errada desde o conselho de classe, manipulado pelos diretores, que utilizam os direitos das crianças e adolescentes para coagir os profes.
    é isso.
    abs

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  2. Na verdade estamos falando de três coisas diferentes. Vamos e elas:

    1 – Concordo que não há mais reprovação no ensino fundamental. Fato! E isso está ligado aos interesses externos do país. Um pré-requisito (fora os não oficiais) para uma vaga no conselho de segurança da ONU é um bom IDH. Sabemos que o Brasil possui um índice subsaariano de desenvolvimento humano, mas como neste calculo estão incluídos taxa de alfabetização e taxa de escolarização, logo nosso governo criou uma estrutura educacional que não reprova alunos, de modo que garanta estes dois índices, “melhorando” o nosso IDH (ao invés de limparmos a merda que estava no meio da sala, apenas estamos chamando ela de fezes, mas ela continua lá e cada vez fede mais);

    2 – O exame do IDEB é um exame sério e aplicado pelo governo federal. Era de total interesse do governo federal (PT) constatar problemas nas turmas das “escolas de lata” do Rio Grande do Sul (governo PSDB). O objetivo desta prova é para que o Ministério da Educação avalie o nível das escolas/turmas (independente desta prova, como disse anteriormente, todos serão aprovados);

    3 – Por ultimo, o objetivo deste post não foi tanto discutir as mazelas da educação publica, quanto ajudar as pessoas a entender que muitas vezes temos todos os motivos para cruzar os prazos e reclamar, porém podemos fazer o máximo que está ao nosso alcance.

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