Em 1998, aos 15 anos, eu trabalhava como estagiário em uma loja de pneus. Lembro com uma riqueza de detalhes surpreendente que, com meu primeiro salário (R$120,00 na época), guardei R$30,00, gastei mais uns R$40,00 em festas e com o restante comprei um radinho. Bem bacaninha ele; da Pionner até. Mas o gasto tinha uma razão.
Nas cidades do interior, os estabelecimentos comerciais fecham ao meio dia para que os funcionários possam ir almoçar em casa e, não diferente aos demais, o local em que eu trabalhava fazia o mesmo e todos os dias eu pegava minha bicicleta e fazia o trajeto trabalho -> casa, casa -> trabalho. Neste itinerário de alguns minutos (permitam-me a fuga gramatical), restava-me ouvir uma música para escapar da monotonia de ver sempre as mesmas paisagens. Também lembro-me bem que Skank, Biquini Cavadão e Cowboys Espirituais eram as bandas mais tocadas.
Tinha meus 15 anos e me preocupava apenas com as novidades de trabalhar e estudar à noite. Era tudo novidade. Achava incrível sair tarde do “colégio”, ter um trabalho e ganhar um salário. Os R$30,00 que guardava tinha o objetivo de comprar alguma coisa um pouco mais cara (depois de alguma economia, acabei comprando uma réplica da Ferrari F-50 e da Lamborghini Diablo, as quais guardo até hoje). Essa era a minha vida. Simples assim!
Hoje, conversava com uma amiga e lembrei-me daquela época. Comentava o quanto eu estava diferente, minha vida havia mudado e como tinha alcançado diversos objetivos (não quero dizer que tenho muito, porém quando não se tem nada, qualquer centavo é uma fortuna). Tomado pela nostalgia não tive outra idéia se não a de fazer uma playlist com as músicas daquela época e ouvi-las enquanto terminava o cronograma de um projeto. Então, fui tomado por uma tristeza grandiosa. Não sei bem se era trsiteza, mas era algo parecido. Talvez uma soma de “missão cumprida”, com “tenho ainda muito pela frente”, mas tudo isso dominado pelo sempre amargo sentimento de “eu era feliz e não sabia”.
Como explicar o paradoxo de ter tudo que sonhou e conseguir sentir saudades de um passado tão simples? Foi então que percebi estar sentindo falta de ser ignorante.
Exato, ignorante. Ignorância no sentido de falta de ciência e de saber. Por desconhecer tudo, não me preocupava com nada. Não sabia quanto era um bom salário, logo acreditava que ganhava bem. Também não sabia que existiam outros empregos, logo o meu era ótimo. Tão pouco sabia das condições financeiras da minha fonte empregadora, gerando-me idéia de estabilidade. O que dirá então do entendimento político sobre o meu país, o que me fazia pensar estar morando em um lugar perfeito. Era excluído das discussões familiares, logo, minha família era perfeita. Preço de um apartamento, de um carro ou dificuldades em tê-los também não faziam parte da minha consciência. Enfim, um alienado, porém feliz adolescente.
Às vezes descubro coisas que não queria saber; que preferiria fazer de conta que não sei, mas geralmente é tarde demais. É simplesmente por isso que detesto fofoca, noticiário midiático, publicidade barata e futilidade cultural, porque geralmente vem associada de uma monte de informação que não irá mudar minha vida em nada e apenas me darão mais informação para diluir e, talvez, pensar a respeito. Não permita que qualquer informação roube algo tão precioso de você como sua ignorância. Abra mão dela apenas para o que realmente valer a pena, pois em breve pode concluir que a perdeu por completo.
A ignorância se vai, e com ela a felicidade. A tua constatação não poderia estar mais correta. Quanto mais se conhece a diferença entre o que é bom e o que é real, mais deixamos o hedonismo de lado. Uma criança não pondera sobre o sentido da vida, ela a aproveita.
ResponderExcluirTalvez somente o nosso retorno à forma mais primitiva possa nos tornar felizes. Com a evolução, o conflito de valores entre ignorãncia e conhecimento torna-se evidente, portanto não há como voltar atrás, não há como enxergar felicidade.