quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um homem, um vulto e a bondade

Todos os momentos de nossas vidas podem ser momentos de reflexão. Tive um bom exemplo disto hoje, no metrô.

Cheguei à estação Mercado (primeira estação da linha, na região metropolitana de Porto Alegre) e o metrô estava parado, com as portas abertas e aguardando os passageiros. Por estar vazio, pude escolher com tranquilidade onde sentar. Escolhi um banco grande. Destes que diversas pessoas sentam alinhadas. Abri meu livro e ative-me a minha leitura. Assim permaneci, enquanto pessoas entravam no vagão e ocupavam os demais assentos. Em poucos minutos, todos estavam ocupados e já havia algumas pessoas de pé. Envolvido na leitura, não reparei muito quem estava por perto, nem tão pouco quem estava de pé. Na verdade apenas identifiquei um vulto próximo e de pé, mas não me ative a repará-lo.

Ao meu lado, sentava-se um homem que, no movimento de arrumar sua pasta, deu a entender que se levantaria. Neste momento, o vulto, que supra citei, praticamente saltou em direção ao local que ficaria vago, no entanto recuou e disfarçou quando percebeu que o homem, na verdade, apenas organizara seu material. Porém o homem percebeu a reação e o constrangimento do vulto. Ele, o homem, olhou para o banco em que sentávamos e notou ter espaço para mais uma pessoa. Pediu para a senhora ao seu lado e para mim, que fossemos mais para o lado. Se ele fizesse uso da linguagem popular, teria dito "aperta que cabe mais um". Quando o espaço foi suficiente para mais uma pessoa sentar, ele chamou o vulto, que na verdade era um senhor de bastante idade e que tremia de frio.

O gesto de solidariedade do homem não cessou. Ou melhor, a bondade dele não cessou. Quando o senhor já estava ao seu lado, ele lhe olhou nos olhos e perguntou o óbvio: "está com frio meu senhor?" e, também obviamente, a resposta foi “sim”. Com isso, ele pegou na mão do senhor, as esfregou e disse "não se preocupa que logo o frio passa!". E o recebeu um sorriso extenso e sincero como retribuição.

Fiquei pasmo com o gesto. Mesmo nos dias de hoje, mesmo com tanta indiferença e egoísmo, algumas pessoas conseguem manter sua bondade intacta. Genial!!!

Mas sabe qual foi a maior lição? Talvez você também a tenham. Caso você tenha lido com dedicação o texto que criei, terá utilizado a imaginação para remontar a cena que não presenciou. Portanto pergunto: como você imaginou este homem? Um gordinho simpático e sorridente? Um magrinho lépido e solista? Grisalho, branco e bem vestido?Vou mudar a pergunta. Alguém imaginou este homem como sendo negro, mal vestido e sujo? Pois era exatamente assim que ele era.

Em minha leitura, não reparei ninguém que entrara no vagão, com exceção a este homem. Chamou-me atenção, não sua cor, obvio, mas sua vestimenta suja dentro de um semblante sorridente. Porém jamais poderia imaginar que dentro de um vagão com outras pessoas tão branquinhas, limpinhas e bem vestidinhas, ele fosse superior a todos. Um preconceito cretino da minha parte, mas que me orgulho de conseguir admiti-lo, pois só assim conseguirei corrigi-lo. Em outras palavras, a bondade não escolhe cor e não escolhe roupas. A verdadeira virtude reside no interior das pessoas.

Um comentário:

  1. è bom admitir preconceitos e falta de atenção!!!
    Pena que mesmo assim, isso não ensine nada a maioria das vezes!!!

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