domingo, 27 de setembro de 2009

Por que temer a felicidade?

Já comentei em posts passados, que a felicidade depende da interação com outras pessoas. Em uma conversa, ainda nesta semana, senti-me instigado a refletir sobre o bloqueio que o medo nos causa. Chega a ser paradoxal, mas nosso medo mais paralisante é justamente o de ser feliz.

O diálogo da semana fez-me lembrar de uma frase que ouvi certa vez: "Acho que vou desistir daquele namoro. Há muitas dúvidas, por isso tenho medo de não dar certo e me machucar, então, quanto antes sair, melhor". Pessoas assim geralmente nunca sofreram por amor, ou foram poucas as vezes que isso aconteceu, e se vangloriam por isso. Muitos podem ler e frase e concordar com ela, como certamente eu já fiz um dia, mas precisei mudar minha opinião a respeito.

Mudei tanto de opinião a ponto de considerar a frase absurda. É sempre complicado falar de sentimentos, pelo simples fato de, muitas vezes, já termos os vivenciado. Por uso farei uso de uma analogia.

Você deixaria de fazer uma prova (qualquer uma) por que não sabe se será aprovado? Dificilmente deixaria. Na maioria das vezes, temos mais certeza de que seremos reprovados do que aprovados, no entanto comparecemos no local marcado e saímos respondendo. Agora, se não deixamos de fazer uma prova por não termos certeza que seremos aprovados, por que então vamos desistir de uma relação por não termos certeza de que seremos felizes? Parece ilógico! Na verdade é!

Nosso medo, quando o assunto é relacionamento, é absoluto. Criamos mecanismos de defesa estúpidos que nos impede de amar e, até mesmo, de sermos felizes. Pensamos em "proteger" nossos sentimentos como se tivessémos autonomia sobre eles e assim vamos desistindo de viver. Tal como alguém que desiste de fazer uma prova por receio de não ser aprovado. Seria muito confortante começarmos algo tendo certeza de que conseguiremos o melhor resultado no final, mas isso tiraria todo o mérito da questão. A vida seria uma rotina decadente.

Sabe aquele frio na barriga que dá na hora de uma prova? É o mesmo que temos quando estamos apaixonados. Sua origem é a mesma: o medo. Neste caso, estamos potencializando o medo e transformando ele em algo bom, algo desafiador e não permitindo que ele nos paralise.

Aos que se vangloriam de nunca terem sofrido em um relacionamento, pergunto: do que vale ter a certeza de nunca ter ido mal em uma prova se você nunca for aprovado em nada? Do que vale se vangloriar de nunca ter sofrido por amor se você nunca amou alguém de verdade? Um aluno é inútil diante de uma prova respondida, tal como seriamos nós em um mundo sem dúvidas.

3 comentários:

  1. Por não ter a capacidade de me expressar melhor, faço das palavras de meu ídolo as minhas...sei, obsessão!! abs

    " O amor elimina o medo; mas reciprocamente o medo elimina o amor. E não apenas o amor. O medo elimina a inteligência, elimina a bondade, elimina todo pensamento de beleza e verdade. Só persiste o desespero mudo ou forçadamante jovial de quem pressente a obscena Presença no canto do quarto e sabe que a porta está trancada, que não há janelas. E então a coisa o acomete. Ele sente uma mão na sua manga, respira um bafo fétido, quando o ajudante do carrasco se inclina quase amorosamente para ele. "É a sua vez, irmão. Por aqui, tenha bondade."E num instante o seu terror silencioso se transforma em frenesi tão violento quanto inútil. Não é mais um homem entre seus semelhantes, não mais um ser racional falando articuladamente a outros seres racionais; somente um animal ferido, ululando e se debatendo na armadilha. Pois, no fim o medo, meus bons amigos, o medo é a própria base e fundamento da vida moderna. Medo da tão apregoada tecnologia que, enquanto eleva o nosso padrão de vida aumenta a probabilidade de nossa morte violenta. Medo da ciência que tira com uma das mãos ainda mais do que prodigamente distribui com a outra. Medo das instituições manifestamente fatais pelas quais, em nossa lealdade suicida, estamos prontos a matar ou morrer. Medo de Grandes Homens, que elevamos, por aclamação popular, a um poder que eles usam, inevitavelmente, para nos massacrar e escravizar. Medo da guerra que nós não queremos mas tudo fazemos para desencadear."

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  2. Oi,
    Hummm, medo de amar... Não sei se é isso realmente, é claro que temos medo de se entregar, é muito dificil entregar o coração a pessoas, principalmente quando no passado, foi entregue e não cuidaram... "Fácil foi no primeiro amor"... Mas, sei lá, acho que se tem uma atitude preventiva, não ao amor, porque esse quando vem não avisa, não te dá oportunidade de fugir, por mais que se tente. Quando realmente se está apaixonado não se tem como evitar... Agora, o problema que as pessoas conhecem as outras e elas devem caber dentro do check list já idealizado, bonito ok, carro ok, espontaneo ok, meio doido fora, sonhador fora, quer compromisso fora... Só ninguém é possivel entrar em todos os requisitos, então antes mesmo de o amor poder acontecer... fora!
    quando ao compromisso, isso me parece estranho, qqr assusta... Hoje eu vejo que qqr compromisso é visto como prisão, não interessa se não é casamento... Qqr coisinha a mais é prisão. O problema é que para se perder o medo precisamos de confiança... Sabe, se eu te entrego mais que meu corpo, se eu te entrego as dores e as alegrias co meu coração, eu quero ter a possibilidade de confiar que posso fazer isso, e para mim é ai que entra o mínino de compromisso. O compromisso de cuidar do que se tem nas mãos.
    Vi um filme esse findi que o cara dizia que rompeu um noivado... Ele refletiu e disse que o copromisso tornava as coisas reais demais, a vida muito real, ele teria que finalmente crescer... Achei interessante, acho que é por isso que se foge de compromissos, tudo fica muito real... Por outro lado, se perde a beleza de pelo menos tentar...

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  3. Obrigado pelo tempo de vocês em comentarem.

    Sobre o medo, ele pode ser até algo bom (assim como a dor).

    Sobre a confiança, esta sim é bastante relativa.

    abraço

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