terça-feira, 15 de setembro de 2009

O paradoxo das falsificações

Tenho uma inquietação que meus amigos conhecem bem: produtos falsificados. Mas o que me deixa curioso, para dizer o mínimo, não está no objeto de consumo, mas nos seus consumidores.

Passei meu feriadão passado no Uruguai e, na parada obrigatória pelo Chuí, observava os FreeShops. Um amigo meu que fazia compras disse: "cara, este Nike é o modelo mais "top" e está custando R$100,00 aqui. Este foi o preço que eu paguei por um falsificado lá no Brasil". Somente meus amigos sabem o quanto aquela frase pode ter me incomodado. Agora, compartilho o motivo com todos.

A justificativa padrão dos consumidores de pirataria é de não concordarem com os abusivos preços que as marcas impõem e, com isto, os consumidores mais pobres, não têm acesso aos produtos de qualidade. Se este fosse o verdadeiro motivo, até poderia dar um pouco (mas bem pouco mesmo) de razão a eles, porém não é este o motivo.

Por R$100,00, você compra diversos tênis de excelente qualidade, inclusive da própria Nike. A questão é que, por este valor, você não consegue comprar o modelo mais "top" do fabricante. Então o sujeito, ao invés de adquirir um material confortável e durador, opta por um tênis vagabundo e desconfortável, porém, por fora, trata-se de uma réplica fidedigna do seu original "top" e é isto que importa para ele. Independente do tênis ser uma bosta, para as pessoas que irão olhar, ficará a impressão de que trata-se do original.

Como pode alguém concordar com isto? Como pessoas tão boas e bacanas, pois conheço algumas, agem desta forma? Deve haver um motivo, seja no inconsciente ou seja na consciência destas pessoas, que as motive a agir desta forma. Tenho até algumas opiniões a respeito, mas prefiro deixar para reflexão de cada um.

5 comentários:

  1. Obrigado, a janela do blog estará sempre aberta.
    Comentando seu texto, eu analiso um ponto de crescimento exponencial deste problema das marcas e dos modelitos do última semana da moda em Milão. O preocupante disso é que isso está impregnado em pessoas inteligentes sim, como seu amigo. Querer ter valor pelo status proporcionado por uma marca. como se usar o último lançamento da Nike fosse te elevar a categoria de Ronaldo Fenômeno. Daí tá valendo até o falsificado. Mas e os jovens? Nos meus anos de profe, o que eu mais via era as minhas alunas e alunos, que, mesmo possuindo baixa renda, obrigavam seus pais a comprarem o original, se endividando por pelo menos um ano por uma bolsa da Adidas. Ou, comprando o mais falso que tinha, para acompanhar aqueles colegas que os pais tinham feito carnê nas Lojas Paludo para dar de presente de aniversário ao filho.

    Dói ver que se valorizam por isso. Dói ver aquele que nem para o falsificado tem $$$.

    O sofrimento, a capa, a falta de personalidade se faz presente. Tenho coisas de marca sim, mas nunca deixei de ter outras coisas em troca disso, elas só foram adquiridas quando valiam o que ia pagar, por exemplo, para correr e fazer exercícios intensos realmente preciso de um tênis bom, mas não de 600 reais, até porque a recomendação e não usar o mesmo tênis por muito tempo. Então o bom, para trocar mais vezes, este é o lema. Ou algo muito bom que acabe durando muito tempo. Daí vale.

    um grande beijo

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  2. Ao ler seu artigo no qual esclarece a seus leitores sua posição frente à pirataria da moda, mergulhei em momentos reflexões e de inflexões nos quais alternei minha opinião diversas vezes. No meio desse diema, lembrei-me de um velho que uma vez disse as seguintes palavras: “qualquer um que não consegue lidar a vida comum ou é totalmente auto-suficiente que não necessita e não toma parte da sociedade, é um bicho ou um deus” (Aristóteles).

    O homem é um ser social, disso, afirmo, não há dúvidas. Etabelecer-se social foi a forma que a evolução manifestou-se no homem para que ele, sujeito totalmente vulnerável ao ataque de todos tipos de predadores por sua arma fatal ser seus dedos opositores, tivesse alguma chance de sobreviver neste mundo pervertido onde o maior come o menor ou mais indefeso.

    Mas afinal o que “O Homem como ser social” tem haver com pirataria e a moda? A maneira de se vestir sempre foi uma forma das pessoas identificarem-se dentro do grupo social em que vivem. Na época nômade, por exemplo, a pele que uma pessoa vestia representava sua força e sua influência perante ao restante do grupo, o quanto mais temido era o animal cuja pele pertencia, maior era a força e a inlfluência dele diante dos demais.

    Em nossos tempos, podemos dizer que o sistema continua o mesmo. Analisemos o seguinte exemplo: dois nômandes, os dois vestem a pele de animais de mesma espécie, porém, um deles a conseguiu através de habilidades de caça que exigia do caçador extrema perícia, e o outro, conseguiu a pele ao achar morto o animal pelo caminho que cruzou outrora. Nessa comparação, os dois caçadores terão igual prestígio perante os demais, porém, um deles tem uma pele pirata. Acredito que hoje a situação seja exatamente a mesma, expresso isso através do seguinte pensamento: não posso ter um nike shocks porque é muito caro, mas se eu tiver um, vou ser alguem com uma certa influência, mas como não posso comprá-lo, opto por um pirata que o resultado vai ser o mesmo – ou quase o mesmo.

    Claramente, a situação é a mesma. A diferença, além da distância cronológica, é que atualmente é muito mais fácil encontrar a pirataria – é mais fácil encontrar um nike falsificado hoje do que um rinoceronte morto mesmo naquela época, não é mesmo? lol -, porém, a nessecidade de nos sentirmos membro do grupo continua igual pois ainda precisamos dele para sobrevivermos.

    Chamamos fúteis aqueles que querem estar na moda para não serem excluídos de um grupo, mas lembre-se, nos tempos antigos, exclusão de um grupo social significava morte. Aliás, nos tempos contemporâneos, também, porém não necessariamente morte física, mas mental. Chamamos ela de depressão.

    Por esses motivos não julgo nem critico aqueles que utilizam da pirataria para estar na moda. Estar na moda está na moda, como seres sociais não devemos fugir dela pois ao fazermos isso, estaremos fugindo do convívio social. Por isso, termino como comecei: “qualquer um que não consegue lidar a vida comum ou é totalmente auto-suficiente que não necessita e não toma parte da sociedade, é um bicho ou um deus” (Aristóteles).

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  3. Respeito a opinião do Fabrizio, mas realmente, não acho que ter consciência de que isso não te torna um ser humano melhor venha a te excluir da sociedade, ou que a pessoa precise ser tão diferente assim. É só pensar que é uma marca, e que o pano ou plástico é o mesmo ou mais barato que de roupas sem marca. Não é uma pele, pela qual tu teve que ter força, na verdade tu tem que ter dinheiro, e o falsificado talvez possua o tecido ou plastico melhor que o original, pois muitos deles são feitos com trabalho escravo.
    Creio que confundir instintos primitivos, de homens primitivos, com o de pessoas que vivem em uma sociedade com diferenças sociais absurdas, não seja uma analogia válida. Mas foi poético e filosófico!!

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  4. Naquela época, reproduzir era uma forma de dar continuidade à espécie e isso estava diretamente ligado a sobrevivência do grupo. Para tanto, quando a mulher se negava a atender ao chamado do homem, ele utilizava da força física para "persuadi-la". Quando dois membros discordavam de uma opinião, eles lutavam até a morte para que apenas uma opinião restasse no grupo e, assim, novas divergências seriam evitadas.

    Não é incomum lermos sobre casos de estupro ou testemunharmos pessoas que foram agredidas por discordarem da opinião do agressor. Os estupradores e os agressores não serão (e não devem) ser compreendidos se justificarem seus atos com a evolução histórica. Talvez esta tenha despertado o instinto, mas cabe a nós, dentro na nossa racionalidade, conter nossos instintos.

    Como você citou, há quem possa utilizar a evolução para justificar a futilidade e dizer que compra um tênis esperando aceitação e respeito e é justamente este ponto que acho errado. Nossa sociedade respeita uma pessoa com poder de compra tanto quanto respeita alguém que reúna valores como bondade, conhecimento, sabedoria, maturidade e dignidade.

    Eu não tenho a menor dúvida que uma pessoa que coletar estas qualidades será respeitada, porém é muito mais fácil ir à loja e tentar comprar respeito e aceitação.


    OBS.: É APENAS A MINHA OPINIÃO. A SUA ESTÁ PERFEITA E NÃO QUERO CONTRAPÔ-LA. SE A MINHA AJUDAR A MELHROAR A SUA, ÓTIMO (INCLUSIVE FALAMOS SOBRE ISSO HOJE).


    forte abraço!

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  5. Justamente. Nossa carga genética é sim determinante para o nosso comportamento tanto individual quanto em sociedade.

    O fato é: os humanos que possuiam em sua carga genética "genes comportamentais" sobreviveram se reproduziram, até chegar a nós.

    Entretanto, temos, também, os genes que nos possibilitam analisar e repensar nosso comportamento. É nesse ponto, como o Junior citou, que devemos "conter nossos instintos" ao o avaliarmos se ele é plausível com a sociedade contemporânea. Muitos deles não, como a propria ideia de matar.

    Por isso penso que não é comportamento individual que é fútil, e sim o da sociedade que se impõem e reflete no indivíduo.

    Termino um pensamento que me ocorreu: Mas menos mal que as pessoas compram nike shocks pirata como forma de expor sua herança comportamental genética. Pior seria se ainda matássemos aqueles que nos intimidam de alguma forma.

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