Por Denis Russo, publicado em seu blog no dia 07/09
Dê uma olhadinha na história da tecnologia nas últimas décadas e você vai perceber que as invenções que mudaram a sociedade e a cultura mais profundamente não eram simples produtos: eram plataformas.
O computador pessoal é uma plataforma. Sozinho ele não faz nada. Mas seu poder de processamento pode ser usado por uma infinidade de softwares. A invenção do computador gerou um surto de inovação que mudou o mundo.
A internet é outra plataforma. Ela não passa de uma rede de conexões. Mas como é uma rede aberta, qualquer um pode utilizá-la para inovar, para criar sites, para divulgar conteúdo, para trocar ideias, para inventar ferramentas.
O google, a mais bem sucedida empresa da internet, é outra plataforma – uma plataforma de busca que fez nascer uma economia na internet. Utilizando essa plataforma aberta qualquer site pode achar um público e gerar receita divulgando anúncios.
E o iPhone é outra plataforma. Na origem, ele era só um telefone mais legal e bonitão. Mas, como é relativamente aberto, gerou outro surto de inovação. Dezenas de milhares de pessoas e empresas criaram aplicativos para o iPhone, aplicativos que a Apple sozinha jamais seria capaz de inventar.
Plataformas são democratizantes, inclusivas. Cada nova plataforma convida uma multidão cada vez maior de pessoas a participar do trabalho de criar coisas novas. E quanto mais gente criando, maior a chance de coisas transformadoras surgirem.
E se transformássemos o governo em uma plataforma aberta?
É essa a ideia de Tim O’Really. O’Reilly é um visionário profissional. Sua sacada mais famosa foi ter criado a expressão “web 2.0”, mas faz mais de 20 anos que ele se dedica a apontar a próxima grande onda – e quase sempre acerta. O’Really é o organizador do gov2.0 Summit, que começa amanhã em Washington. Escrevo do avião, a caminho de lá.
Na analogia de O’Reilly, governos hoje se parecem com uma “vending machine”, aquelas máquinas de vender refrigerantes ou salgadinhos. Você coloca o dinheiro (os impostos), a máquina solta um pacotinho de amendoim (o serviço público). Se o amendoim não vier, o máximo que você pode fazer é chacoalhar a máquina (protestar, fazer passeatas, gritar “fora Sarney”).
Na visão de O’Reilly, devíamos substituir o governo-vending-machine por um governo que funcione mais como um computador, a internet, o google, o iPhone. Uma plataforma aberta, a partir da qual todo mundo pode inovar, criar, colaborar. Se o serviço é ruim, você melhora. Um governo de código aberto.
Funcionaria assim: o governo disponibilizaria toda informação disponível sobre a sociedade – todos os dados, todos os números, todo os fatos (o governo Obama está tentando começar a fazer isso com o site http://www.data.gov/). Aí, qualquer pessoa que quiser inventar um “aplicativo” para a plataforma-governo teria direito de fazer isso. O governo deixa de ser o agente da administração – passa a ser apenas a plataforma sobre a qual qualquer cidadão pode se governar.
Aplicativo de governo? Como assim? Não sei bem ainda. Tudo isso ainda parece bem vago, embora promissor. Assim como seria impossível prever quais softwares surgiriam antes da invenção do computador, também não dá para prever como o governo mudará quando virar uma plataforma. Mas o Summit em Washington será uma primeira reunião entre gente do país inteiro envolvida em projetos de transparência, democracia, cidadania, participação, colaboração, para começar a formular essa ideia. Toda a cúpula de tecnologia de informação da Casa Branca vai estar lá, além de gente ligada aos projetos mais inovadores de estados e cidades, comandantes militares, inovadores da saúde e educação, autores como o ótimo Clay Shirky e empresas como a Google e a Microsoft.
O Brasil não poderia estar mais longe dessa realidade. Aí na terrinha o governo não apenas não é uma plataforma aberta como nem sequer a vending machine funciona direito. Colocamos um monte de dinheiro e o amendoim vem murcho. E, por mais que chacoalhemos a máquina, o Sarney não cai.
Mas às vezes tenho a esperança de que essa nossa desvantagem vire uma vantagem. Sabe a história do atraso que acaba ajudando novas tecnologias a se espalharem? (Exemplo: no Brasil faltavam linhas fixas de telefone e isso acelerou a adoção do celular.) Quem sabe nossa vending machine quebrada acabe sendo um incentivo para as pessoas adotarem de uma vez o governo-internet. Mesmo que os Sarneys e os Azeredos da vida não queiram. Isso sim seria uma “nova independência” – independência dos políticos.
Dê uma olhadinha na história da tecnologia nas últimas décadas e você vai perceber que as invenções que mudaram a sociedade e a cultura mais profundamente não eram simples produtos: eram plataformas.
O computador pessoal é uma plataforma. Sozinho ele não faz nada. Mas seu poder de processamento pode ser usado por uma infinidade de softwares. A invenção do computador gerou um surto de inovação que mudou o mundo.
A internet é outra plataforma. Ela não passa de uma rede de conexões. Mas como é uma rede aberta, qualquer um pode utilizá-la para inovar, para criar sites, para divulgar conteúdo, para trocar ideias, para inventar ferramentas.
O google, a mais bem sucedida empresa da internet, é outra plataforma – uma plataforma de busca que fez nascer uma economia na internet. Utilizando essa plataforma aberta qualquer site pode achar um público e gerar receita divulgando anúncios.
E o iPhone é outra plataforma. Na origem, ele era só um telefone mais legal e bonitão. Mas, como é relativamente aberto, gerou outro surto de inovação. Dezenas de milhares de pessoas e empresas criaram aplicativos para o iPhone, aplicativos que a Apple sozinha jamais seria capaz de inventar.
Plataformas são democratizantes, inclusivas. Cada nova plataforma convida uma multidão cada vez maior de pessoas a participar do trabalho de criar coisas novas. E quanto mais gente criando, maior a chance de coisas transformadoras surgirem.
E se transformássemos o governo em uma plataforma aberta?
É essa a ideia de Tim O’Really. O’Reilly é um visionário profissional. Sua sacada mais famosa foi ter criado a expressão “web 2.0”, mas faz mais de 20 anos que ele se dedica a apontar a próxima grande onda – e quase sempre acerta. O’Really é o organizador do gov2.0 Summit, que começa amanhã em Washington. Escrevo do avião, a caminho de lá.
Na analogia de O’Reilly, governos hoje se parecem com uma “vending machine”, aquelas máquinas de vender refrigerantes ou salgadinhos. Você coloca o dinheiro (os impostos), a máquina solta um pacotinho de amendoim (o serviço público). Se o amendoim não vier, o máximo que você pode fazer é chacoalhar a máquina (protestar, fazer passeatas, gritar “fora Sarney”).
Na visão de O’Reilly, devíamos substituir o governo-vending-machine por um governo que funcione mais como um computador, a internet, o google, o iPhone. Uma plataforma aberta, a partir da qual todo mundo pode inovar, criar, colaborar. Se o serviço é ruim, você melhora. Um governo de código aberto.
Funcionaria assim: o governo disponibilizaria toda informação disponível sobre a sociedade – todos os dados, todos os números, todo os fatos (o governo Obama está tentando começar a fazer isso com o site http://www.data.gov/). Aí, qualquer pessoa que quiser inventar um “aplicativo” para a plataforma-governo teria direito de fazer isso. O governo deixa de ser o agente da administração – passa a ser apenas a plataforma sobre a qual qualquer cidadão pode se governar.
Aplicativo de governo? Como assim? Não sei bem ainda. Tudo isso ainda parece bem vago, embora promissor. Assim como seria impossível prever quais softwares surgiriam antes da invenção do computador, também não dá para prever como o governo mudará quando virar uma plataforma. Mas o Summit em Washington será uma primeira reunião entre gente do país inteiro envolvida em projetos de transparência, democracia, cidadania, participação, colaboração, para começar a formular essa ideia. Toda a cúpula de tecnologia de informação da Casa Branca vai estar lá, além de gente ligada aos projetos mais inovadores de estados e cidades, comandantes militares, inovadores da saúde e educação, autores como o ótimo Clay Shirky e empresas como a Google e a Microsoft.
O Brasil não poderia estar mais longe dessa realidade. Aí na terrinha o governo não apenas não é uma plataforma aberta como nem sequer a vending machine funciona direito. Colocamos um monte de dinheiro e o amendoim vem murcho. E, por mais que chacoalhemos a máquina, o Sarney não cai.
Mas às vezes tenho a esperança de que essa nossa desvantagem vire uma vantagem. Sabe a história do atraso que acaba ajudando novas tecnologias a se espalharem? (Exemplo: no Brasil faltavam linhas fixas de telefone e isso acelerou a adoção do celular.) Quem sabe nossa vending machine quebrada acabe sendo um incentivo para as pessoas adotarem de uma vez o governo-internet. Mesmo que os Sarneys e os Azeredos da vida não queiram. Isso sim seria uma “nova independência” – independência dos políticos.
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