segunda-feira, 27 de julho de 2009

Hipocrisia anti-gay

Post publicado na última quinta-feira, pelo Jornalista Denis Russo (a Super Interessante era outra revista na época deste cara, mas tudo bem), hoje colunista da Veja.




Quando adolescentes se juntam para infernizar seus colegas gays, ou bater neles, não é incomum que haja meninos gays entre os agressores. Não é difícil de entender por quê: num mundo em que ser gay é algo terrível, condenável, imoral, participar de um ataque covarde pode ser um jeito de desviar a atenção de si para os outros. “Eu não sou gay. Até bato em gays.” É também um jeito de descarregar a raiva contra sua própria homossexualidade.

O chocante é que esse padrão não se dá apenas entre crianças. Adultos gays não assumidos estão entre os maiores inimigos dos homossexuais. É esse o tema do documentário Outrage, de Kirby Dick, que assisti esta semana. O filme revela que vários dos políticos mais conservadores dos Estados Unidos, os mais ferozes oponentes de direitos para homossexuais, na verdade são gays firmemente trancados em seus armários.

O filme desmascara um a um esses políticos: os deputados David Dreier, Ed Schrock e Jim McCrery, o senador Larry Creig, o gerente de campanha de Bush Ken Mehlman, o atual governador da Flórida, Charlie Crist. Todos são republicanos. Todos são conservadores. Todos têm um longo histórico de votar contra o direito ao casamento ou à adoção, contra a inclusão da homofobia entre os chamados “crimes de ódio”, contra qualquer direito aos homossexuais. Não se trata de mera boataria: o documentário toma o cuidado de mostrar provas: fotos, gravações, depoimentos.

O problema de reprimir a sexualidade é que uma hora ela escapa (vide os escândalos recorrentes na Igreja Católica). Esses políticos conservadores, forçados a fingir que são maridos responsáveis e defensores dos valores da família, cedo ou trade escorregam e são flagrados em bares gays, na companhia de garotos de programa, ou em banheiros públicos. Muitas vezes eles são denunciados por ex-parceiros, que se irritam com a hipocrisia. Um blogueiro chamado Michael Rogers fez sua carreira desmascarando políticos anti-gay que na verdade são gays.

Saí do filme com a sensação de que muito do movimento conservador contra os direitos dos homossexuais na verdade se apoia em líderes que são gays e não conseguem lidar com isso. Não é incrível?

Foi inevitável fazer o paralelo com o Brasil. Aí, como aqui, a imprensa não fala abertamente do assunto. Mas talvez o sistema americano, com seu apego aos “valores da família”, acabe favorecendo a hipocrisia, o fingimento, principalmente entre os conservadores. O fato é que em nenhum dos dois países os homossexuais políticos costumam sair do armário: o risco eleitoral seria grande demais, eles avaliam. Será que seria mesmo? Ou será que parte dos eleitores acabaria premiando sua sinceridade? O que aconteceu na última eleição para prefeito de São Paulo, quando um ataque preconceituoso contra a sexualidade de Gilberto Kassab saiu pela culatra e acabou ajudando a elegê-lo, me faz ter essa dúvida.



Minha opinião (Júnior Alves):
Há dois aspétos envolvendo casamento de pessoas do mesmo sexo:

1 - O casamento no civil corrige injustiças ao legitimar o parceiro (a) os seus direitos. Penso na situação de duas pessoas construindo tudo juntas durante 30 anos, uma morre e a outra fica sem nada. Não seria justo.

2 - Agora, querer casar na igreja é desrespeito. Isto, porque o local foi criado e é mantido por religiosos que são opositores ao casamento gay. Querer se casar, tudo bem, mas fazer isto dentro do local considerado sagrado por aqueles que recriminam o gesto, ai é desrrespeito e confronto.
As diferenças de culturas precisam ser respeitadas e não confrontadas.

6 comentários:

  1. O preconceito ainda é muito forte frente à homossexualidade, o que indica ignorância dos que pensam que é uma escolha e desconhecem que é um fator biopsicossocial. O que faz com que muitos gays reprimam a sexualidade (é bem mais fácil do que encarar o olhar do preconceito).
    A igreja com seus religiosos, sem estudos científicos e com problemas internos de relação recriminam a união homossexual, mas o que nos dizem a respeito dos atos de pedofilias que já vieram à tona e foram logo abafados por terem sidos cometidos por padres dentro do local considerado sagrado???

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  3. O que se fala sobre bater em qualquer um? Não só no gay, negro, mas e os nerds da escola. E bater em alguém no transito, hoje vi a Ignorância na saída da acadêmia, um cara, de seus 26 anos gritando com um senhor de idade que estava contra-mão no estacionamento, e chamou de tudo, e disse queia matar " aquele velho gagá". Assim, a ignorância, e a falta de respeito pelas diferenças é o problema. Quando se discute com alguém porque simplesmente pensa diferente de ti, também não é uma forma de agredir, fazer o outro acreditar no mesmo que tu? A religião segue este caminho a muitos e muitos anos. Alguém nota? gays serem discriminados é um problema, mas não tão diferente da mania das pessoas de achar que tem de existir um "default".
    Ser diferente provoca agressões, das mais variadas formas, além da física, que as vezes machuca bem menos que palavras!!!
    bj

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  5. Uma palavra: dogmas...quem os cria mesmo? o que é distorcido a ponto de provocar tal violência? DOGMAS...eu discordo!! mas não questiono aqueles que acham que a religião não possui a intenção de controlar...

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