quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Por que você usaria o adesivo de uma marca no seu carro?

     Assistindo um documentário sobre publicidade direcionada para crianças (o quanto a mídia explora a ingenuidade das crianças), percebi uma cena muito, mas muito reflexiva!

     Uma menina, com pouco mais de seis anos, falava o quanto gostava da marca Moranguinho e o quanto queria todos os produtos da personagem. Então, a psicóloga que produziu o documentário perguntou o porquê dela querer especificamente estes produtos e a menina respondeu: "Porque a Moranguinho é legal! (em um tom de "ora bolas, precisa de um motivo melhor do que ser legal para eu querer?"). O quadro encerra-se com a psicóloga dizendo o quanto é forte o poder da publicidade sobre uma criança ingênua, pois a propaganda é capaz de induzir uma menina a gostar e a consumir determinada marca sem que ela saiba o motivo disso. Pois é, este depoimento me fez recordar algo que aconteceu no meu trabalho dias atrás.

     Como faço sempre, estaciono meu carro e caminho entre os demais até o portão que dá acesso à saída do estacionamento. Naquele dia em especial, o carro de um colega chamou-me a atenção. Percebi neste um adesivo da Nike, até discreto, colado no pára-choque traseiro. Refleti um pouco sobre aquilo, mas segui caminhando. Quando já estava na minha sala, assim que tive a oportunidade de encontrar o dono do carro, comentei com ele que havia percebido o adesivo e perguntei o que o motivou a fixá-lo lá, e ele disse-me: "sei lá, achei o adesivo legal e colei!".

     Diariamente, somos bombardeados por publicidade. É um arsenal de recursos invasivos nos falando de um produto sem que estejamos interessados nele. Porém, observe algo: você já reparou que a maioria das propagandas não mostra um motivo lógico (como preço ou teste de qualidade) que o leve a adquirir o seu produto? Ou então que a maioria dos vídeos publicitários se quer estão relacionados ao produto em si? Vamos ao exemplo da Nike mesmo. Você já assistiu alguma propaganda deles que diga "Nike 38 molas por apenas R$1.199,00!!! Aproveite!!!", ou então "Com estas 38 molas no seu pé, seu tênis será muito mais ergonômico, suas corridas terão melhor desempenho, etc, etc"? Não, você nunca viu ou irá ver uma propaganda assim das grandes empresas, pois seu objetivo não é fixar a marca a um padrão de qualidade ou de preço e sim a um padrão de vida.

     Durante muito tempo, as sandálias Havaianas faziam comerciais enaltecendo o fato de seu produto não desbotar e não soltar tiras. Antigamente, ao falar sobre Havaianas, as pessoas pensavam em um bom e resistente chinelo de borracha, mas e hoje, ainda é isso que pensamos? Lembramos mais a qualidade inquestionável de um chinelo ou a figura de uma pessoa bem vestida, bem sucedida, vestida de forma despojada e calçando a sandália?

     Faça um teste: se eu pedir para você definir a Nike como uma pessoa, como você a descreveria? Alguém jovem praticante de esportes? Possivelmente sim, mas de onde vem esta definição e como ela foi criada?

     Como eu havia dito, não se vende mais qualidade e sim estilo de vida. As empresas patrocinam eventos dos quais querem identificar sua marca, suas propagandas estão no intervalo de programas com os quais também buscam uma identificação. Aos poucos, somos influenciados e, um belo dia, estamos em uma loja comprando uma camiseta com a estampa enorme de uma marca no peito ou pedindo um adesivo para fixar em qualquer lugar, por acharmos tudo aquilo "legal". Enquanto o "surfista" usa roupas que destcam as marcas para ser identificado como um surfista, outra pessoa usa roupas "bacaninhas" mescladas com uma sandália Havaiana para parecer bem sucedida e o meu colega usa seu carro como outdoor da Nike para se considerar um atleta. Porém há um detalhe em tudo isso: as empresas só vendem estilo de venda, por que há compradores.

     Questione o motivo que o leve a consumir determinada marca, caso contrário sua personalidade pode continuar sendo a mesma de uma criança de seis anos.

2 comentários:

  1. Ju, muito legal teu ponto de vista...
    as pessoas viraram "outdoors" ambulantes!

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  2. Oi, Ju!
    Às vezes, podemos estar diante da roupa que atende exatamente a nossa necessidade, mas infelizmente ela tem aquela estampa gigante! Ai, paciência! Vai com a super estampa mesmo. Porém, neste caso, haverá uma troca: ela atende as minhas necessidades e eu sirvo de outdoor para ela. Agora, o que não pode acontecer (ou não deveria) é a pessoa comprar uma roupa justamente por que ela possui uma super estampa. Ai não!

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