Seguramente todos já perceberam que, ao brigarmos com amigos, dificilmente ficamos mais do que poucas semanas sem falar com eles, porém quase todos temos aquele um (a) ex alguma coisa com quem brigamos de uma forma que não é possível se quer olhar mais para a pessoa. Mas por que esta diferença? Eu tenho uma opinião a respeito e vou fazer uso de uma analogia militar para explicá-la. Aqui no Brasil, há uma guerra que explica muito bem isso: a Guerra dos Farrapos.
Todos sabem que há uma divisão nítida, porém invisível entre o Rio Grande do Sul e os demais estados do Brasil. Os gaúchos cultivam sua cultura de forma fervorosa e preferem unanimemente serem considerados gaúchos a brasileiros. Já o resto do país não perde a oportunidade de tentar minimizar os gaúchos, seja com piadas sobre sua masculinidade, seja com deboches em relação ao jeito de falar e de vestir deste povo. Bom, mas de onde vem este sentimento separatista dos gaúchos? Isso se extende desde a Revolução Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos, que fora uma guerra pela independência do Rio Grande). Mas como isso ainda está presente mesmo tendo se passado 165 anos? Será que foi apenas por ter sido um conflito violento? Pouco provável, pois alemães e britânicos mataram muito mais adversários na Segunda Guerra Mundial e hoje são fortes parceiros comerciais e sem nenhuma rixa aparente (sem falar que este confronto é muito mais recente). A grande questão não está no tempo, nas mortes ou tão pouco nas diferenças culturais. O problema está na diferença entre uma guerra civil e uma guerra entre Estados.
Quando dois ou mais Estados travam uma batalha eles fazem uso de táticas convencionais de confronto, ou seja, destroem reservas, atacam por terra e pelo ar, preparam frentes navais, etc, etc. Porém em uma guerra civil (que é como eu caracterizo as revoluções), há um fator diferencial na disputa: o conhecimento sobre o adversário. Os gaúchos em sua revolução recrutaram negros para seu exército formando uma tropa que ficou conhecida como Lanceiros Negros, pois sabiam da posição escravista apoiada pelo governo imperial coronelista. O ataque imperial aos lanceiros foi implacável, o que feriu o orgulho dos Farrapos. Por sua vez, o governo imperial bloqueou o acesso ao Porto de Rio grande e, como resposta, a revolução tomou Laguna, porém não por sua posição estratégica (seria mais simples retomar Rio Grande), mas eles sabiam que a tomada de Laguna iria atingir o orgulho dos imperiais e, portanto, a fizeram. Isso não era tática militar apenas, mas sim conhecimento do adversário. Quando se tem este conhecimento é possível feri-lo também em seu orgulho e em suas vaidades, e estas feridas não cicatrizam tão facilmente e é exatamente este ponto que conecta uma guerra civil a uma guerra de casais.
Em uma briga de amigos, eles usam táticas convencionais para isso (palavras e gestos que ofenderiam qualquer pessoa). Agora, na briga de um casal, ambos sabem muito sobre o "oponente". Aspectos das suas intimidades já foram compartilhados. Você sabe o que dizer para ofender a outra pessoa e, no calor da briga, o que acaba fazendo? Isso mesmo, você usa esta informação e dispara a ofensa. Obviamente a outra pessoa não deixa por menos e revida com a mesma agressividade. Bom, ai a ofensa atingi um nível em que a convivência torna-se insustentável e a relação, logicamente, chega ao fim.
Às vezes, brigamos por motivos estúpidos e falamos coisas das quais nos arrependemos (na verdade, quase sempre é assim). O pior, no caso dos casais, é ofender uma pessoa que você ama e acabar ouvindo coisas tão pesadas que não haja como relevá-las e, possivelmente, um casal que tinha tudo para ficar junto termine por uma bobagem. Não use o conhecimento que você tem de alguém em qualquer briga. Isso, só irá magoar a pessoa. Quer atingir a pessoa então? Use o silêncio. Nada é tão forte quanto ele em uma briga. A final, o silêncio só será um tolo, enquanto nós formos sábios, mas ele será muito sábio quando estivermos sendo tolos.