domingo, 8 de maio de 2011

Exploração da mão de obra ou novo comunismo?


     Percebi esta semana que estamos diante de uma nova forma de comunismo. Trata-se de um Comunismo Intelectual. Pode-se aprender muito com ele, mas é preciso atenção para não ser enganado vendo apenas uma parte da verdade.

     O filósofo alemão, Erich Auerbach, fez uma análise muito interessante sobre um tipo de mentira: a verdadeira. Como assim?? Bom, eu explico. Digamos que um teatro tenha contrato com seis atores, porém apenas dois deles são bons o suficiente para uma apresentação. No entanto no contrato consta que todos devem se apresentar no palco. Para cumprir o contrato e não comprometer a crítica, os donos decidem colocar os quatro atores ruins encenando em um canto do palco e os outros dois, os bons, em outro canto, porém apenas os atores bons receberão iluminação e audio. Embora os cartazes e os panfletos de divulgação anunciassem apenas os dois atores bons, você percebe que há mais coisa acontecendo, porém, como não consegue ver e nem ouvir, sua atenção se volta para onde há luz e áudio. Ao mostrar apenas a parte que lhes interessavam, os donos do teatro cumpriram seu contrato com os atores e ainda deram ao seu público uma bela apresentação. O paradoxal de lhe mentir dizendo a verdade é o que Auerbach considerava a diferença entre mentira e engano.

     Ninguém mentiu para você. Apenas não lhe contaram toda a verdade e é justamente assim que o novo comunismo se apresenta. São intelectuais (e por isso já partem com muita credibilidade) mostrando apenas parte da verdade. Por exemplo: no filme "The Corporation", diversos intelectuais (alguns, ex-empresários também) apresentam os problemas causados por grandes corporações. Em um momento do filme, eles mostram uma fábrica da Nike na Indonésia, que paga a hora dos funcionários em centavos, o que é classificado como exploração. Qualquer um concordará que aquelas pessoas estão sendo exploradas, mas concordamos analisando a realidade deles a partir de qual perspectiva? Da nossa, que temos conforto e segurança ou do ponto de vista deles? Será que as pessoas que tentaram um emprego lá e não conseguiram concordam que quem conseguiu está sendo explorado? Com £6,00 (seis libras), na Inglaterra, você não come nem um sanduche de mortadela. Então, qualquer britânico que descobrir uma empresa da Inglaterra, instalada no Brasil, pagando ticket de R$16,00 aos funcionários vai considerar que isto é exploração. E você? Concorda que este valor para almoço é exploração?

     Há um detalhe neste contexto que não pode ser ignorado: se a Nike sair daquele pais, as pessoas deixarão de ser exploradas, mas isso melhorará a vida delas? O que teria ouvido o intelectual que entrevistou a operária se tivesse perguntado para ela "Você prefere ser explorada ou passar fome?". É evidente que a exploração não é o problema dessa gente e sim a consequência. Trata-se de um país desestruturado, corrupto e, por conseguinte, muito, mas muito pobre. E isso, em momento algum, é mostrado no filme. É fato que a Nike não está sendo ética, mas não é essa a causa do problema. Tirá-la de lá só pioraria tudo. Pense comigo: se seu carro está fazendo um barulho, você tira uma peça e o barulho aumenta, é lógico que você mexeu na parte errada!

     Enfim, não estou dizendo que estes materiais sejam desprezíveis. Até mesmo considero um deles fascinante (The Story of Stuffs), inclusive já o recomendei aqui no blog. O próprio filme "The Corporation" é muito, mas muito bom. Só acho que eles não podem fazer afirmações sem apresentar tudo que está acontecendo. As filmagens são fundamentais para "abrir os olhos" de muitos que veem empresas como entidades bacaninhas que se preocupam com as pessoas. Porém não se pode usar o argumento de que elas exploram brechas sociais para dizer que este é o problema em si. A parte que eles não estão dando nem luz e nem áudio, muitas vezes, é a verdadeira causa do problema.

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