Há muito tempo atrás, a imprensa que cobria futebol resumia-se a dois ou três jornais, que acabavam sendo a principal fonte de informação dos torcedores. Então, um empresário, quando queria valorizar um jogador, pagava aos meios de comunicação para que falassem bem dele. Durante as narrações, qualquer bola que ele não dominasse o narrador manizava dizendo que o problema tinha sido o passador. Por sua vez, quando errava um passe, ele dizia que seu colega não tinha entendido a jogada e, no final da partida, obviamente, lhe era dado o prêmio de melhor em campo. No outro dia, os jornais apontavam tal jogador como único craque em um elenco de medianos e ele se tornava ídolo da torcida. Hoje em dia, isso é impossível!
A maioria dos homens e a minoria das mulheres (mas, de qualquer forma, boa parte da nossa população) assistem aos jogos do seu time no final de semana (quando não assistem mais uns dois ou três jogos também). Não obstante, muitos, após a rodada, continuam com a TV ligada para assistir aos programas de mesa redonda que sucedem o futebol. No dia seguinte, também lêem o jornal para saber o que escreveram a respeito dos jogos e, também no dia seguinte, acessam algum site (geralmente mais de um) para ver como repercutiu a rodada. Os que agem desta forma sabem exatamente como está seu time, como ele está em relação aos outros times, quais são os principais jogadores, quais opções que o treinador poderia ter utilizado, como a direção do clube está planejando contratações, onde estão as maiores falhas do clube, etc, etc. Ou seja, com tanta informação disponível estes torcedores que acompanham seus times não podem mais serem manipulados. Não interessa a eles quem foi escolhido o melhor em campo pela imprensa. Cada um sabe quem foi o seu melhor em campo (e isso até provoca discussões entre comentaristas de mesa redonda e entre amigos na segunda-feira).
Lembram o que aconteceu quando a Rede Globo tentou colocar a torcida contra o Dunga? Não conseguiram, pois não era a versão da Globo contra a versão do Dunga, mas sim a da Globo, a do Terra, a da Record, a da Rede TV, a do Estado de São Paulo, de todos os outros veículos e a versão do Dunga. Como a população buscou estas fontes de informação, logo, ela concluiu: “Péra ai, o problema não é o Dunga e sim a Globo!” e a emissora virou a vilã na estória. Talvez pela primeira vez ela tentou manipular a opinião pública e não tenha conseguido. Mas isso em virtude de haver tanta informação a respeito? NÃO! Isso por que as pessoas buscaram estas informações.
Este vasto conteúdo existe para todos os assuntos, mas apenas o utilizamos quando nos interessamos por algo. A mídia não consegue (por mais que ela tente) nos dizer quem é bom e quem é ruim, ou quem está certo e quem está errado no futebol. Neste assunto, a torcida (a massa) tem voz própria. Sem dúvida todos já ouviram "o técnico foi demitido por pressão da torcida" ou "a torcida pegou no pé de tal jogar e ele será negociado". Já pensaram o quanto ia ser expressivo se publicassem "o governador foi deposto por pressão dos eleitores" ou então "a população pegou no pé de determinado político e ele não será mais eleito". Imaginem como seria a mídia publicando os fatos exatamente como eles são, por saber que não conseguem nos influenciar em relação à política. Pois é, preciso aterrissar na realidade e aceitar que enquanto continuarmos tratando futebol como prioridade e política como entretenimento (afinal, elegemos um palhaço para deputado), vamos seguir sendo uma nação “Massa de Manobra”.
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