Estava eu, no supermercado, esperando a minha vez de ser atendido, na fila dos "frios" (friamberia, tipo queijo, chester, presunto, etc) quando percebi um senhor mal humorado em minha frente. O tiozinho parecia ser bem humilde (pobre mesmo), devido sua simplicidade e sua forma de falar. A mim, ele não dirigira a palavra, mas percebi que se queixava de tudo que via. Quando chegou a sua vez de ser atendido, pediu 250g de presunto. Ao pesar, a moça lhe perguntou: "pode ser 242g senhor?" e ele respondeu: "não, eu pedi 250g!".E eu ali, assistindo. Então ela acrescentou uma fatia e, adivinhe!?!?! Passou!!! E eu ali, olhando. Quando a balança mostrou os 258g, a moça tornou a perguntar: "pode ser senhor?" e ele respondeu: "você não deve ter ouvido eu ter dito 250g!!!" e eu ali, esperando. Bom para resumir, a moça se irritou e pesou 242g, cobrou por isso e deu uma fatia grátis para o "mala" que, acreditem, ainda saiu reclamando. Olhei para o semblante da moça (imaginem a expressão de alguém que está trabalhando ha horas e acaba de vencer a batalha do presunto) e me perguntei:"mas um senhor tão simples, não deveria ter empatia com alguém em uma condição semelhante a sua?". Acho que devo ter pensado alto, pois, como se estivesse respondendo ao meu pensamento, ela disse: "os mais pobres são os mais chatos! Odeio gentinha". Então lembrei da minha teoria da Síndrome do Pequeno Poder.
Quando se é pobre em uma sociedade capitalista e materialista como a nossa, você, na maioria das vezes, é destratado. O sujeito é menosprezado pela sociedade até chegar ao trabalho (seja o ônibus que atrasa e não para, seja pelo metrô "atrolhado" de pessoas ou seja pelos motoristas dos carros que ignoram respeito aos pedestres). Quando chega, seu chefe dá cabo de continuar a humilhação (há quem pense que pessoas simples e pobres detestam trabalho e, com isto, precisam tratá-las como escravas). Ao retornar para casa encontram o mesmo problema da ida e só se terão dignidade ao chegar em casa (e nem sempre isso acontece).
Se na rua ele é destratado, no trabalho é humilhado e em casa nem sempre tem o respeito que merece, quando que esta pessoa irá se sentir melhor? Quando que ele terá algum tipo de poder? Lembra que mencionei que nossa sociedade era capitalista? Pois, é, quando o sujeito for trocar seu dinheiro por algum produto ou serviço ele terá um pequeno poder. O poder do cliente!
Ahh como é bom ser cliente. Neste mágico momento tudo muda. Não importa o quanto se é imbecil ou gentil, pobre ou rico, branco ou negro, enfim. Se você é cliente, você é bem tratado. Porém, há pessoas que sofrem da síndrome deste pequeno poder. É o momento delas descontarem todas as humilhações acumuladas. Seja na moça dos frios, seja no cobrador do ônibus, seja no taxista, ou com qualquer pessoa que o trate como cliente.
Portanto, quando você for humilhado ou destratado, releve, pois você pode estar diante de alguém afetado pela Síndrome do Pequeno Poder.
sábado, 1 de maio de 2010
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Vou lembrar da Síndrome do Pequeno Poder na segunda-feira, quando "vestir" o headset.
ResponderExcluirProps pelo post.
adorei o post... eu ja tive a sindrome do pequeno poder... mas no meu caso foi por irritação mesmo... fiquei muito brava com uma menina em uma loja e pulei em cima dela, mas não fiz pensando em menosprezar ela tanto que no outro dia fui a loja com chocolates e um pedido de desculpas, eu só estava muito impaciente e ela demorando para fazer algo simples... Depois ficou tudo bem.. :D
ResponderExcluirAmigo (relaxe, Rei, baiano é assim, por partilhar pensamentos semelhantes, já se arvora no direito de chamar de amigo... rsrs), você deve ter se inspirado em Foucaut, em sua obra intitulada, Microfísica do Poder... É por ai mesmo...
ResponderExcluirAh, diante da fala da atendente, lembrei-me de um filme... "Crash - no limite"... Segue essa linha... Ficamos, por exemplo, com muita raiva de um personagem, para no final ele agir de forma ainda mais preconceituosa...
Temos, meu caro, muito a evoluir... Mas, pelo menos, ao detectarmos as nossas imperfeições e, em um segundo momento, nos empenhamos em transpô-las, não nos acomodamos e aprendemos a não julgar e a não sermos preconceituosos... Devemos, amigos, sempre buscar a humildade e a compaixão...
Era isso... Mas nunca é só isso....
Thays Ricarte
É tão possível que eu tenha usado Foucaut, como possa ter sido Weber ou Bourdieu, pois todos foram inspiradores ao falar das relações de poder. Porém, acredito que nenhum deles tenha vivido suficiente para perceber o quanto o cliente ganhou poder na sociedade.
ResponderExcluirEm relação à amizade, nós gaúchos também temos este habito. E, por outro lado, não há nada demais, pois a intimidade mesmo está nos adjetivos e não nos pronomes. hehehe
Abraço!!!