segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“Autocraciaaaaa, eu quero uma prá viver!”

A grande “sacada” do ser humano foi ter descoberto que seria mais forte atuando em grupo do que de maneira isolada. Durante boa parte da nossa existência na Terra, nossa sobrevivência dependeu deste fator. Não teríamos a menor chance de combater grandes carnívoros se não estivéssemos agrupados.

Ao perceber uma situação de risco, nosso inconsciente emite um sinal de alerta (o medo) para nos defender. Isto ocorre sempre que nossa vida for ameaçada (inclusive, por nós mesmos). Porém, como supra mencionei, nosso inconsciente acredita que ainda dependemos dos grupos para viver. Sempre que não nos sentirmos inseridos em um grupo, ele atua para que, rapidamente, façamos parte de algum. Por esta razão inconsciente é que a autocracia sempre funcionará.

No filme (A Onda), alguns fatores básicos para uma autocracia funcionar são apresentados: disciplina, uniformes, liderança, objetivos em comum, etc. Quando olho para um quartel militar, penso: “como estas pessoas podem gostar disso?”. Agora, pergunte a um militar o que ele acha. Seguramente lhe dirá que adora o exército. O mesmo ocorre em colégios militares e, até mesmo, em empresas “linha dura”. Os funcionários precisam usar uniformes, respeitar normas gigantescas, cumprir horários de maneira “religiosa”, respeitar as rígidas hierarquias, mas adoram suas empresas.

Nestas autocracias modernas, o individuo sempre é retribuído quando o interesse do grupo é alcançado. No exercito, isso ocorre com medalhas e, nas empresas, com bônus. Todos são respeitados e sabem que seu empenho será recompensado, por conseguinte, se sentem parte do grupo. Nosso inconsciente percebe que estamos inseridos neste grupo e, a cada interação com ele, áreas do cérebro ligadas à recompensa ficam “acesas”, aumentando a produção da dopamina (neurotransmissor que estimula o sistema nervoso central, produzindo a adrenalina). Qualquer coisa que o grupo faça, iremos repetir. Mesmo que não consideramos a atitude correta, a faremos para continuar nos sentido inseridos.

Dias atrás, quando ocorreu aquela estupidez da torcida do Coritiba, entrevistaram um dos agressores dos policiais, e este disse não entender o que acontecera com ele. Nunca estivera em uma delegacia de polícia, mas, quando viu todos correndo em direção ao gramado, correu também. Quando viu todos agredindo os policiais, os agrediu também. Pergunte a um colorado por que ele odeia o Grêmio (utilizo este exemplo por ser gaúcho, mas ele é valido para qualquer dupla de clubes rivais)? Talvez diga que o problema são os gremistas, talvez responda que não gosta das cores ou talvez alegue que herdou esta “coisa” do seu pai. A única verdade é que ele não terá certeza de onde vem esta rivalidade. Isto é autocracia! Cada individuo não sabe por que age, mas o grupo sabe e é esta vontade que acaba sendo respeitada. Para continuar inserido no grupo, é preciso agir desta forma. Ao fazer, recebe uma boa e deliciosa dose de dopamina, que o motivará a fazer novamente. O incentivo dos demais membros (seja elogios, cumprimentos, medalhas, bonus, etc) trará mais sensação de inserção.

É difícil controlar nossa inteligência primitiva, mas precisamos tentar. Não consigo ser tão racional ao ponto de incentivar as pessoas a não viverem mais em grupos (gosto da dopamina que recebo quando vejo meus pais e meus amigos, e acho que não sei viver sem ela). Porém acredito que a vontade do grupo não pode prevalecer à do individuo. Quando estiver fazendo algo, questione-se por que está fazendo. Sei que é difícil, mas a tentativa sempre é valida. Acredito que esta é a única forma de provar ao nosso inconsciente que não precisamos matar policias, judeus ou qualquer ser humano para estarmos inseridos em um grupo.

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