Sim, vamos tocar na ferida!
O ministro do STF, Gilmar Mendes, sempre posicionou-se contra as cotas raciais nas universidades, porém, no último dia 31, ele negou uma liminar que requeria a eliminação desta na UnB. A alegação do presidente do STF foi que a liminar solicitava reparação de uma injustiça através do cancelamento das cotas e, segundo a visão correta do jurista, isto não repararia a injustiça. Em seu texto, voz apresento a seguinte passagem (no mínimo interessante):
(…) é preciso enfatizar que, enquanto em muitos países o preconceito sempre foi uma questão étnica, no Brasil o problema vem associado a outros vários fatores, dentre os quais sobressai a posição ou o status cultural, social e econômico do indivíduo. Como já escrevia nos idos da década de 40 do século passado Caio Prado Júnior, célebre historiador brasileiro, “a classificação étnica do indivíduo se faz no Brasil muito mais pela sua posição social; e a raça, pelo menos nas classes superiores, é mais função daquela posição que dos caracteres somáticos.
Assim, somos levados a acreditar que a exclusão no acesso às universidades públicas é determinada pela condição financeira. Nesse ponto, parece não haver distinção entre “brancos” e “negros”, mas entre ricos e pobres. Como apontam alguns estudos, os pobres no Brasil têm todas as “cores” de pele. Dessa forma, não podemos deixar de nos perguntar quais serão as conseqüências das políticas de cotas raciais para a diminuição do preconceito. Será justo, aqui, tratar de forma desigual pessoas que se encontram em situações iguais, apenas em razão de suas características fenotípicas? E que medidas ajudarão na inclusão daqueles que não se autoclassificam como “negros”?
Ano passado, ao me inscrevi para o vestibular, marquei a opção de "Egresso de Escola Pública", ou seja, assim teria direito as vagas destinas a estes alunos, fazendo uso do que chamam de "cotas sociais". No entanto obtive score para classificação sem necessidade deste recurso, pois, se não houvesse cotas, minha posição seria a 120 (em um total de 160 vagas disponíveis). Com o advento das cotas, minha posição final foi 98 (se não estiver enganado). Portanto nada altera meu mérito, uma vez que não dependi da ajuda. Mesmo assim, se algum colega meu me olhasse e dissesse "cara, você só chegou aqui porque sempre foi pobre e estudou em colégio público", eu responderia "e você porque fez os melhores cursinhos e é rico". Qual a diferença de mérito? A conquista dele seria mais honrosa que a minha mesmo que tenhamos disputado em condições desiguais? Acho que não. Comparo este caso com uma corrida de automóveis entre um pobre e um rico. Com o seu carrinho velho e de motor fraco, o pobre deveria ter o direito de arrancar 10 segundos antes. Resultado destas cotas: repara a desigualdade social.
Mas e se um colega olhar para o outro e falar "Você só entrou aqui porque é negro". Qual será a resposta do colega negro? "e você porque é branco"??? O Júnior aqui poderia lhe responder: "Olha amigo negro, -e não me entenda mau por utilizar esta forma de tratamento, pois você a utilizou também em sua auto-declaração para poder estar aqui-, estou aqui porque, apesar do trabalho, estudei em todo o tempo de folga que tive nos últimos dois anos. Excluí-me de amigos e de lazer para estar aqui, pois meus pais não tinham condições financeiras quando eu era mais jovem e precisei começar a trabalhar com 14 anos de idade, o que me impossibilitava de fazer o terceiro ano pela manhã e estudar em um cursinho à tarde. Embora não tenha precisado, pois tirei uma excelente média" Não obstante eu faria uma só pergunta ao colega: "E você, por que não fez o mesmo?"
No semestre passado vi uma cena chocante. Eu estava no bar do Antônio, no Campus Centro, e observei uma mesa com quatro alunos de cor negra e, no outro canto do bar, outros quatro de cor branca. Até então, havia considerado a cena apenas curiosa, no entanto, quando me sentei próximo a mesa dos brancos (apenas porque estava ao lado de onde peguei meu café), os ouvi falando sobre as cotas e olhando para a outra mesa. No momento em que saí do bar, ao passar pela mesa com os colegas negros, por sua vez os ouvi falando sobre racismo. Logo pensei: "Regredimos!!!". Levamos anos de evolução para entender que somos iguais e que este papo de raça é uma bobagem segregadora, mas estamos retomando isto. Quem já presenciou uma matrícula da "Era Cotas" sabe do que estou falando. Como as matrículas na UFRGS são feitas por colocação no vestibular, os últimos colocados serão os últimos a serem escritos. No caso de um curso com 160 vagas, por exemplo, se não tiver ali 15% de alunos do ensino público, os últimos da fila dão lugar a estudantes neste perfil para completar a cota (como a escola Tiradentes e colégio Militar são considerados públicos e existem vários outros Júnior, isto quase não chega a acontecer), mas ocorre muito no caso das cotas por raça. De mesmo modo, se não tiver 15% de negros entre os 160, os últimos darão lugar até completar a cota. Resultado: como as filas de matrícula são formadas de 10 em 10 alunos, a última fila é formada, exclusivamente, por negros. Resultado destas cotas: segregação racial.
Que contribuição este sistema tem para o fim do racismo, ou estaria ele fazendo manutenção deste? Os negros que aceitam participar dele, não estariam abrindo mão das conquistas de igualdade de seus antecessores por uma vantagem? Quantos estão utilizando a cota racista e tiveram condições melhores que as minhas na infância?
Tenho diversos amigos negros, adoro todos eles e sou um defensor do fim do sistema de cotas por raça, pois detesto racismo. Espero que este mal seja reparado a tempo de evitar situações de preconceito provocadas por imbecis, com na foto acima, que utilizam o tema como pano de fundo para expressar seu racismo.
O ministro do STF, Gilmar Mendes, sempre posicionou-se contra as cotas raciais nas universidades, porém, no último dia 31, ele negou uma liminar que requeria a eliminação desta na UnB. A alegação do presidente do STF foi que a liminar solicitava reparação de uma injustiça através do cancelamento das cotas e, segundo a visão correta do jurista, isto não repararia a injustiça. Em seu texto, voz apresento a seguinte passagem (no mínimo interessante):
(…) é preciso enfatizar que, enquanto em muitos países o preconceito sempre foi uma questão étnica, no Brasil o problema vem associado a outros vários fatores, dentre os quais sobressai a posição ou o status cultural, social e econômico do indivíduo. Como já escrevia nos idos da década de 40 do século passado Caio Prado Júnior, célebre historiador brasileiro, “a classificação étnica do indivíduo se faz no Brasil muito mais pela sua posição social; e a raça, pelo menos nas classes superiores, é mais função daquela posição que dos caracteres somáticos.
Assim, somos levados a acreditar que a exclusão no acesso às universidades públicas é determinada pela condição financeira. Nesse ponto, parece não haver distinção entre “brancos” e “negros”, mas entre ricos e pobres. Como apontam alguns estudos, os pobres no Brasil têm todas as “cores” de pele. Dessa forma, não podemos deixar de nos perguntar quais serão as conseqüências das políticas de cotas raciais para a diminuição do preconceito. Será justo, aqui, tratar de forma desigual pessoas que se encontram em situações iguais, apenas em razão de suas características fenotípicas? E que medidas ajudarão na inclusão daqueles que não se autoclassificam como “negros”?
Ano passado, ao me inscrevi para o vestibular, marquei a opção de "Egresso de Escola Pública", ou seja, assim teria direito as vagas destinas a estes alunos, fazendo uso do que chamam de "cotas sociais". No entanto obtive score para classificação sem necessidade deste recurso, pois, se não houvesse cotas, minha posição seria a 120 (em um total de 160 vagas disponíveis). Com o advento das cotas, minha posição final foi 98 (se não estiver enganado). Portanto nada altera meu mérito, uma vez que não dependi da ajuda. Mesmo assim, se algum colega meu me olhasse e dissesse "cara, você só chegou aqui porque sempre foi pobre e estudou em colégio público", eu responderia "e você porque fez os melhores cursinhos e é rico". Qual a diferença de mérito? A conquista dele seria mais honrosa que a minha mesmo que tenhamos disputado em condições desiguais? Acho que não. Comparo este caso com uma corrida de automóveis entre um pobre e um rico. Com o seu carrinho velho e de motor fraco, o pobre deveria ter o direito de arrancar 10 segundos antes. Resultado destas cotas: repara a desigualdade social.
Mas e se um colega olhar para o outro e falar "Você só entrou aqui porque é negro". Qual será a resposta do colega negro? "e você porque é branco"??? O Júnior aqui poderia lhe responder: "Olha amigo negro, -e não me entenda mau por utilizar esta forma de tratamento, pois você a utilizou também em sua auto-declaração para poder estar aqui-, estou aqui porque, apesar do trabalho, estudei em todo o tempo de folga que tive nos últimos dois anos. Excluí-me de amigos e de lazer para estar aqui, pois meus pais não tinham condições financeiras quando eu era mais jovem e precisei começar a trabalhar com 14 anos de idade, o que me impossibilitava de fazer o terceiro ano pela manhã e estudar em um cursinho à tarde. Embora não tenha precisado, pois tirei uma excelente média" Não obstante eu faria uma só pergunta ao colega: "E você, por que não fez o mesmo?"
No semestre passado vi uma cena chocante. Eu estava no bar do Antônio, no Campus Centro, e observei uma mesa com quatro alunos de cor negra e, no outro canto do bar, outros quatro de cor branca. Até então, havia considerado a cena apenas curiosa, no entanto, quando me sentei próximo a mesa dos brancos (apenas porque estava ao lado de onde peguei meu café), os ouvi falando sobre as cotas e olhando para a outra mesa. No momento em que saí do bar, ao passar pela mesa com os colegas negros, por sua vez os ouvi falando sobre racismo. Logo pensei: "Regredimos!!!". Levamos anos de evolução para entender que somos iguais e que este papo de raça é uma bobagem segregadora, mas estamos retomando isto. Quem já presenciou uma matrícula da "Era Cotas" sabe do que estou falando. Como as matrículas na UFRGS são feitas por colocação no vestibular, os últimos colocados serão os últimos a serem escritos. No caso de um curso com 160 vagas, por exemplo, se não tiver ali 15% de alunos do ensino público, os últimos da fila dão lugar a estudantes neste perfil para completar a cota (como a escola Tiradentes e colégio Militar são considerados públicos e existem vários outros Júnior, isto quase não chega a acontecer), mas ocorre muito no caso das cotas por raça. De mesmo modo, se não tiver 15% de negros entre os 160, os últimos darão lugar até completar a cota. Resultado: como as filas de matrícula são formadas de 10 em 10 alunos, a última fila é formada, exclusivamente, por negros. Resultado destas cotas: segregação racial.
Que contribuição este sistema tem para o fim do racismo, ou estaria ele fazendo manutenção deste? Os negros que aceitam participar dele, não estariam abrindo mão das conquistas de igualdade de seus antecessores por uma vantagem? Quantos estão utilizando a cota racista e tiveram condições melhores que as minhas na infância?
Tenho diversos amigos negros, adoro todos eles e sou um defensor do fim do sistema de cotas por raça, pois detesto racismo. Espero que este mal seja reparado a tempo de evitar situações de preconceito provocadas por imbecis, com na foto acima, que utilizam o tema como pano de fundo para expressar seu racismo.
A única maneira justa que vejo de existirem cotas seriam para aqueles alunos que estudaram em escola pública e obtiveram médias altas durante toda vida escolar, ou seja, sempre se esforçaram e aproveitaram aquele pouco que o educação regulamentar pública tem a oferecer. Estes, como vi, e presenciei, enquanto lecionei, deveriam ter sim direito a cotas na Universidade Pública, seria coerente, quantos alunos meus sempre tiveram 100 no boletim a vida toda e nem sequer chegarão perto da universidade? Provavelmente todos...
ResponderExcluirinté
Júnior, concordo, acho. Penso que se o problema é social deve-se então aumentar a qualidade no ensino público, que está agonizando... Sabe eu acho que o lance das cotas cria uma coisa que até então eu nunca tinha visto ou ainda sentindo. Certa vez, fui me inscrever em uma reunião da prefeitura e eu era obrigada a me qualificar em uma raça... Embora ali não existisse mestiço... Sabe, eu chegeui a perguntar para a moça qual era a razão da pergunta, e uma vez q não tivesse mestiço, se eu poderia deixar sem resposta. Bom, para primeira não houve resposta e para a segunda se eu não colocasse nada eu não poderia me inscrever. Céus que diferença faria! E por que? Eu nunca tive q fazer isso antes, me discriminar em uma "raça".
ResponderExcluirEm outra situação, fiz um concurso público, para cargo de nível superior, portanto, a dita desigualdade inicial estaria suprida. Contudo exitia cotas para negros... Por que? Todos deveriam ter curso superior... Quando entrei na sala e vi colegas negros fiquei irracionalmente brava! Tive que sentar na cadeira e refletir, não é culpa deles... Eu nunca tive esse sentimento em minha vida, eu não sou racista, eu não ligo para isso... Mas eu tinha estudado e poderia não conseguir o emprego por que não tinha a cor certa...
Sou negro, estudei em escola particular durante toda minha instrucao e ainda fiz cursinho para ingressar na faculdade publica. Ingressei na universidade antes das cotas, porem me formei nesta era.
ResponderExcluirEh chocante como as afirmacoes do meu amigo Junior (sim, grande amigo do qual dividi inclusive moradia) sao verdadeiras. Claro que essa discussao sobre as minhas condicoes de ingresso na faculdade publica(provinda da escola particular) sempre existiu, e nao nego minha vantagem historica. Porem, nunca me senti um vencedor por ser um negro na universidade, nunca comparei minha posicao com a dos meus colegas. Situacoes essas que estao acontecendo nao somente agora, mas desde quando foi criada a discussao sobre as cotas raciais.
Hoje nos nos deparamos com grupos separadas por etnias, nao convive o suficiente a era das cotas para ver o quanto isso ocorre, porem eh possivel perceber os "grupos etnicos" se formando!
Nao consigo entender se o objetivo da comunidade negra foi exatamente este: Criar o grupo negro mais forte como uma unidade.
Moro atualamente na Australia, onde os grupos soa basicamentes separados por etinias: indianos, chineses, coreanos, europeus...
Etnias, nao cores.. E basicamente separadas por consequencia da acao discriminadora dos estrangeiros. Indianos nao se misturam nem com indianos de outras etnias, chineses montam suas China Towns em qualquer parte do mundo, para ficar perto de outros chineses e aproveitar das condicoes oferecidas por paises mais desenvolvidos para expandir seu nivel financeiro.
Nossa grande conquista eh ser um pais que sempre aceitou todas as cores, somos receptivos, amigaveis e felizes (nao importa o quanto a politica faz, a crise, a gripe, o salario) sempre encontramos tempo para sermos felizes. Num momento que reascendemos uma discussao da qual pessoas nao podem disfarcar seu lado (pois negros e brancos serao sempre negros e brancos, nao importando ser a favor ou contra sistemas de cotas raciais) comecamos a criar novamente o PRE-conceito e num futuro, uma provavel disputa de forcas entre brancos e negros (africa do sul), que nao eh uma situacao sadia para o pais, para a populacao e aos olhos da comunidade internacional.
Paremos com a ignorancia. Menos de 10% da populacao brasileira eh puramente negra, assim como menos de 10% da populacao eh branca, somos um povo mestico, que fala portugues e sao essas caracteristicas que nos classificam como BRASILEIROS!
Um pedido aos meu irmaos negros, parem a discriminacao a nossa origem.
Cotas devem ser sociais!
Um grande abraco e saudade do irmao Junior!
MS