Este ano, a UFRGS estendeu as cotas para negros em seu vestibular e, como era de se esperar, todas as discussões, de quando as cotas foram adotadas, retornaram.
A polêmica do tema está na diferença das notas dos negros para brancos. Em resumo, os brancos de notas altas e que não conseguiram acesso à universidade revoltaram-se com o fato de negros, em muitos casos com notas até 25% inferiores, terem obtido uma vaga. Birrinhas mimadas a parte, lendo o que acabei de escrever, refletindo um pouco sobre estarmos em 2012, não parece um certo retrocesso separar as pessoas por cor? Li uma charge, dias atrás, que ilustrava exatamente isso. Ela mostrava o diálogo entre o neto e o seu avô. O avô dizia "meu neto, você não sabe o que é racismo. Saiba que, no meu tempo, metade do cinema era destinado aos negros e metade aos brancos" e o menino responde "Sei sim vô, no meu tempo, 75% da universidade é destinada aos brancos e 25% aos negros".
Em resumo, não há como discordar que este assunto fomenta o racismo (afinal, estamos segregando a sociedade em raças e usando esta segregação para aplicar privilégios). Então, outra lógica que surge é que algo que fomenta o racismo deve ter sido criado por racistas, correto? Errado! Os principais defensores das cotas são grupos que lutam pela igualdade racial (cara, isso tudo é muito confuso).
A explicação dos defensores deste sistema baseia-se na necessidade de reparação aos danos causados aos negros do Brasil escravista, que também não lhe proveu iguais condições de trabalho após a abolição da escravatura. O problema é que esta forma de reparação aumenta o racismo. Mas por que um grupo que é contra o racismo, aceita um sistema que aumenta o racismo? É o que eu chamo de A Hipocrisia do Favorecimento. Funciona mais ou menos assim: a pessoa é contra algo. Ela defende e apoia todos que também forem, no entanto, se ela levar algum benefício, não se importa mais tanto assim com aquilo e até encontra motivos para, agora, defender seu novo ponto de vista. Para ficar mais claro, uso o exemplo das empresas: pense naquele seu colega que dedica boa parte de seu dia criticado as regalias que a empresa dá aos cargos de liderança. Ela critica a empresa, os que aceitam, o RH e todos mais que estejam envolvidos. Ai, um belo dia, o sujeito torna-se um líder (chefe, no caso). No dia seguinte ele passa a ser o primeiro a arrumar justificativas para as regalias.
Políticos são assim, empresários são assim, trabalhadores e funcionários públicos são assim (brincadeirinha, amigos funcionários públicos), estudantes e até os defensores das classes minoritárias. Enfim, todos abandonam suas causas primárias se haver uma forma de serem beneficiados. Cabe-nos apenas acompanhar mais um exemplo da nossa própria hipocrisia.