quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Portadores de Deficiência - Mudando para ficar igual


     

     Para quem não sabe, ontem, nossa presidente Dilma referiu-se as pessoas com deficiência como Portadores de Deficiência. e, logo após, precisou se retratar e chamá-los de Pessoas com Deficiência. Pois é, assim que soube, ecoou em mim um grandioso e um sonoro "e dai?!?!"

     Após passar por duas cirurgias ano passado e ter ficado seis meses andando de muletas, o que menos importava para mim era se iam me chamar de portador de muletas ou de pessoa com muletas. Eu realmente queria que aquelas malditas portas que abrem para fora não existissem. Que os degraus em dias de chuva não me impedissem de circular. Ou então que as vagas para deficientes físicos não fossem ocupadas para deficientes mentais nos estacionamentos.

     Senti, durante pouco tempo, o quanto convivemos em uma sociedade despreparada para deficientes. Lembro que precisei fazer uma prova na faculdade usando muletas e ganhei bolhas nas mãos por ter de andar quase 300 metros de muleta e subir dois andares de escada. tente pegar um ônibus de muleta. Agora, imagine um ônibus usando cadeira de rodas. Sua dignidade é tão corrompida que o seu único desejo é o de permanecer em casa. No entanto, quando assisto no noticiário o que repercutiu de um fórum sobre inclusão, vejo um publico vibrando por um pedido de desculpas por terem sido chamados de Portadores de Deficiência.

     E daí que apenas um vigésimo das linhas de ônibus estão adaptadas e com profissionais preparados para o apoio necessário. E daí que as organizações só se adaptam para os deficientes por coerção da lei? E daí que a educação não é inclusiva? O que realmente importa é o pedido de desculpas. Tenho certeza de que muitos que sentiram a sua dignidade massageada pelo pedido, a perderam logo em seguida, quando foram para casa.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Não acredite em tudo que você ouve



     Se eu pudesse destacar um aprendizado que tive nos últimos anos, seria esse: não acredite em tudo que você ouve. Sempre cheque as informações! Há um abismo entre ser critico e não confiar nas pessoas e estou me referindo a ser critico. Neste caso, o assunto é política. 

     Tenho acompanhando o processo eleitoral à prefeitura de Porto Alegre e chamou-me a atenção dois fatos trazidos pela candidata Manuela D'Ávila: ter sido apontada como uma das 100 parlamentares mais influentes do Brasil e ter uma trajetória política de sucesso iniciada aos 16 anos. Então, fui checar ambas as informações.


100 mais influentes

     Descobri que a lista é feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), um departamento com o objetivo de transformar em normas legais as reivindicações da classe trabalhadora. Ou seja, um departamento de "esquerda", assim como os partidos de "esquerda": PT, PSOL, PSTU, PC do B, etc.
     Resumindo: eles (um departamento de esquerda) elegeram a Manuela (que pertence a um partido de esquerda) uma das 100 mais influentes parlamentares. Algo errado nisso? Só chequei a fonte.


A carreira política

     Acessei o site da candidata e, de lá, coletei as informações sobre sua carreira. Há uma linha do tempo bem bacana lá que ilustra suas realizações, porém a maioria diz respeito a presidir comissões e liderar bancadas. Vamos deixar claro que isso é meio para se fazer bem feitorias. Se disso não resultar projetos que melhorem a condição pública, serviu apenas de palanque. Também encontrei "feitos" como votos em projetos de lei. Ora, parlamentar dizer que aprovar uma lei é uma realização é o mesmo que um frentista dizer que é um profissional diferenciado por que abastece carros.

     Com bastante atenção, encontrei quatro realizações políticas:
     - Foi relatora da Lei do Estágio (lei que assegura novos direitos aos estagiários);
     - Construiu e relatou o Estatuto da Juventude (financiamento estudantil a estudantes de escolas publicas);
     - Foi relatora de Vale Cultura (inventivo a produtores culturais);
     - Apresentou projeto para todos terem acesso a biografias de personalidades brasileiras.


Conclusão

     Nem vou entrar na questão dos 100 mais influentes. Listas que não sejam baseadas em critérios técnicos é um ótimo exemplo para a frase "comparar maçã com banana" (ainda mais quando quando pode haver interesse no meio). Sobre a trajetória política, não concordo que apenas quatro realizações, sendo duas ligadas à cultura e outra a estágio (não que não sejam importantes, mas questiono se são prioritárias), sejam suficientes para serem apontadas como sucesso em uma carreira com mais de 13 anos. Aliás, também questiono se são suficientes para elegerem alguém como prefeito de uma cidade do tamanho de Porto Alegre (embora 21% da população acredite que sim). Portanto reitero a dica que  sigo até hoje: não acredite em tudo que você ouve. Acrescento: não baseie suas decisões em discursos mais do que em fatos.


Foto de Joelma Terto.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Rio+20 é como uma conferência de criminosos tentando criar um Código Penal



     Por mais que se queira crucificar os países desenvolvidos, não há santo neste altar. De um lado, estão os países subdesenvolvidos liderados pelo Brasil. Sim, o mesmo Brasil que aumenta a tributação de bicicletas e reduz o IPI dos automóveis. É, o país do transporte público desmoralizante (ineficiente apenas soa como elogio para o que temos) e dos veículos sem fiscalização de condições de tráfego. De outro, os desenvolvidos, representados por China e EUA, que agem como alguém que não quer ir a uma festa e diz “só vou se o Fulado (o cara que nunca saiu na vida) for”.

     Ninguém está dando a mínima sobre políticas ambientais sustentáveis naquele evento. É um jogo político cretino, no qual os países mais pobres tentam criar políticas de desaceleração do crescimento para os países mais ricos, enquanto os riscos falam em parar o desmatamento para os pobres (lê-se, também, desaceleração do crescimento). Toda esta podridão envelopada de atitude pró-ambientalismo. É tanta hipocrisia que se fala em preservar o planeta e não os humanos. Estes sim irão morrer sem recursos naturais. O planeta observará sua vegetação sendo reconstruída naturalmente (após alguns bilhõezinhos de anos, é claro), quando seu único parasita sucumbir à sua própria ganância.

     Não há moral naquela cúpula para se chegar a uma conclusão sobre preservação ambiental. Estas conferências ambientais só terão resultado no dia em que o amadurecimento humano for tão grande que criminosos possam se reunir para criar um código penal justo e imparcial (porém acho que isso vai levar bem mais do que só alguns bilhõezinhos de anos para acontecer).

domingo, 15 de abril de 2012

Um dia, eu superei o Birinha!


     Quando criança -não mais do que 10 anos de idade- havia uma pista de BMX próxima a minha casa -na verdade mesmo, era um terreno baldio que nós, a criançada, tinhamos tomado conta, cortado o mato e construído uma pista-. Era muito divertido aquilo. Corríamos entre uns 12, no mínimo.  Organizava-nos em times de dois “infanto-atletas”. O meu parceiro de equipe era o Fábio. Éramos muito bons, porém nunca ganhávamos do time do Birinha. Não lembro quem era o outro integrante da dupla do Birinha, mas isso pouco importa. Quem ganhava mesmo era ele, o Birinha. Sempre chegávamos em segundo. O vencedor de todas baterias era ele, sim, o Birinha.

     Um dia, um amigo que não corria conosco apareceu na pista e pediu para correr. Como precisava ter uma dupla para isso, o Fábio permitiu que ele corresse comigo. O nome deste amigo era Alexandre, o Cabeça. Na primeira corrida ele só observou e quis dar o meu melhor para ele ver que teria um parceiro de peso na sua recém formada equipe. Fiquei na melhor posição possível: segundo lugar -o primeiro, é claro, era do Birinha-. Então, entusiasmado com a minha "vitória" fui conversar com o Cabeça e, para minha surpresa, ele estava irritado comigo.

     Sim, ele se aproximou e, em uma memória ainda colorida para mim, disse: "Por que não passou??? Ficou passeando atrás do cara ao invés de passar!!!" e eu respondi "Ora por que não passei? O cara é o Birinha!". "Grande coisa ser o Birinha! Vou te mostrar como se faz", respondeu ele. Então, o Cabeça pegou a bicicleta, foi para um bateria contra o Birinha e, para surpresa geral dos competidores, ele ganhou a corrida!!! Sim, o Mito havia sido batido. Após ganhar, ao invés de dar oito voltas olímpicas, fazer dancinha e tudo mais, o Cabeça apenas caminhou para a minha direção e disse "Viu cuzão! É só passar o cara e não ter medo". Depois daquilo, eu e o Fábio nunca mais perdemos para o Birinha.

***

     Semana passada, ministrei um Workshop/treinamento para uma equipe lá da RBS. Basicamente eu falava como o profissional deve se portar diante de uma demanda -seja um projeto grande ou seja um projeto pequeno-. Como deviam questionar e não ter receio de não conseguir entregar. Algo, no meu entendimento, normal. Uma das colegas que participou veio até mim e disse "Júnior, este treinamento mudou a minha vida! Concordo com tudo que você disse e percebi que não estava agindo da forma certa. A partir de agora tudo vai ser diferente”. Pensei para mim "Ela poderia ter feito isso sem eu ter falado nada. Mas é interessante como as pessoas, muitas vezes, têm potencial para algo e não o fazem até que alguém lhes diga que são capazes e lhes demonstre que é possível fazer".

     Estava eu, orgulhoso por ser um cara que nunca precisou que me dissessem que eu era capaz, pois sempre encarava meus problemas sem medo. Considerando-me "fodão" por ter nascido assim. Então lembrei de como consegui superar o Birinha.

***

     Moral da história: você sempre precisará de ajuda para superar seus medos e enfrentar suas dificuldades -mesmo sendo capaz de fazer isso-. A diferença está em quando aparecerá uma pessoa na sua vida disposta a lhe ajudar ou quando você dará ouvidos a ela. Se você pensar diferente, acreditando que nunca precisará de ajuda e ignorando aqueles que estão dispostos a de fato lhe ajudar, você corre o risco de estar chegando em segundo e considerando isso uma grande vitória.

terça-feira, 27 de março de 2012

Encare os fatos: ficando na média, você será apenas medíocre.

     Digamos que você esteja em uma corrida e seu tempo, volta após volta, seja igual ao tempo da maioria. Não há nada errado nisso. O problema é você ter este resultado mediano e acreditar que isso é o suficiente para ganhar a corrida.

     Quando eu trabalhava na empresa Processor (uma empresa do ramo da Tecnologia da Informação aqui de Porto Alegre), eu tinha um colega que quase me inspirava de tantas ambições. Ele possuía um plano elaboradíssimo para obter várias certificações (no mercado da tecnologia, algumas certificações são até mais importantes que um diploma universitário). Ele possuía uma lista com data e com nota esperada para cada prova que pretendia fazer. Achei aquilo incrível. Todas aquelas certificações eram algo para caras muito acima da média. Eu realmente admirava aquele cara. Então os dias, os meses e até os anos se passaram e as certificações dele ficaram lá, na listinha. Nada aconteceu. Sabem por quê? Porque ele seguiu sua rotina como a maioria das pessoas segue: estudando três ou quatro dias por semana, jogando a bolinha do final de semana e fazendo o churrasquinho de sempre com os amigos.

     Algo errado nisso? Não, mas vamos aos fatos. Se você fizer apenas o que a maioria das pessoas fazem, você automaticamente estará onde a maioria estará, ou seja, na média. Sim, você será mediano; medíocre. Há algo errado nisso? Não, nada! Desde que você se conforme que nunca terá uma posição de destaque e será sempre um comum a mais (seja na sua turma da universidade, seja nos seus relacionamentos, ou seja na sua carreira).

     Não espere fazer o que todos fazem e atingir resultados incríveis. Admita que, desta forma, lhe resta apenas a mediocridade.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dica de Filme!!!

     Assisti, dias atrás, um filme que realmente precisava recomendar: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain.

     Não sou muito fã de cinema francês, mas este filme é muito bom. Sabe aquele tipo de filme que quando uma cena fica escura você pensa "não, não...   ...vai terminar! Droga!!!". Pois é, este filme é assim.

     De tudo, o filme deixa a mensagem de como a rotina pode ser prejudicial a qualquer pessoa, como as nossas idiossincrasias podem não ser tão idiossincráticas e como nossa vida pode se tornar extremamente atraente sem precisar deixar de ser simples.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cotas na UFRGS: A Hipocrisia do Favorecimento

     Este ano, a UFRGS estendeu as cotas para negros em seu vestibular e, como era de se esperar, todas as discussões, de quando as cotas foram adotadas, retornaram.

     A polêmica do tema está na diferença das notas dos negros para brancos. Em resumo, os brancos de notas altas e que não conseguiram acesso à universidade revoltaram-se com o fato de negros, em muitos casos com notas até 25% inferiores, terem obtido uma vaga. Birrinhas mimadas a parte, lendo o que acabei de escrever, refletindo um pouco sobre estarmos em 2012, não parece um certo retrocesso separar as pessoas por cor? Li uma charge, dias atrás, que ilustrava exatamente isso. Ela mostrava o diálogo entre o neto e o seu avô. O avô dizia "meu neto, você não sabe o que é racismo. Saiba que,  no meu tempo, metade do cinema era destinado aos negros e metade aos brancos" e o menino responde "Sei sim vô, no meu tempo, 75% da universidade é destinada aos brancos e 25% aos negros".

     Em resumo, não há como discordar que este assunto fomenta o racismo (afinal, estamos segregando a sociedade em raças e usando esta segregação para aplicar privilégios). Então, outra lógica que surge é que algo que fomenta o racismo deve ter sido criado por racistas, correto? Errado! Os principais defensores das cotas são grupos que lutam pela igualdade racial (cara, isso tudo é muito confuso).

     A explicação dos defensores deste sistema baseia-se na necessidade de reparação aos danos causados aos negros do Brasil escravista, que também não lhe proveu iguais condições de trabalho após a abolição da escravatura. O problema é que esta forma de reparação aumenta o racismo. Mas por que um grupo que é contra o racismo, aceita um sistema que aumenta o racismo? É o que eu chamo de A Hipocrisia do Favorecimento. Funciona mais ou menos assim: a pessoa é contra algo. Ela defende e apoia todos que também forem, no entanto, se ela levar algum benefício, não se importa mais tanto assim com aquilo e até encontra motivos para, agora, defender seu novo ponto de vista. Para ficar mais claro, uso o exemplo das empresas: pense naquele seu colega que dedica boa parte de seu dia criticado as regalias que a empresa dá aos cargos de liderança. Ela critica a empresa, os que aceitam, o RH e todos mais que estejam envolvidos. Ai, um belo dia, o sujeito torna-se um líder (chefe, no caso). No dia seguinte ele passa a ser o primeiro a arrumar justificativas para as regalias.

     Políticos são assim, empresários são assim, trabalhadores e funcionários públicos são assim (brincadeirinha, amigos funcionários públicos), estudantes e até os defensores das classes minoritárias. Enfim, todos abandonam suas causas primárias se haver uma forma de serem beneficiados. Cabe-nos apenas acompanhar mais um exemplo da nossa própria hipocrisia.