terça-feira, 27 de julho de 2010

O dia-a-dia é inspirador

    Trago dois exemplos que traduzem o que tentei dizer com este título:


     Dias atrás, estava caminhado na rua. Fazia o trajeto mercado-casa. Ao passar ao lado de um sinal que estava fechado, um motorista, enquanto esperava a luz verde, arremessou uma latinha pela janela. Fui até a lata, a peguei e a devolvi ao dono, dizendo "Senhor!!! Você deixou cair sua lata. Por pouco ela não fica pela rua virando lixo e entupindo bueiros". A cara de constrangimento dele só não foi maior daqueles que eu acredito se tratar de sua esposa e filho. Então, o sinal abriu e quando o carro arrancou, ele jogou a lata pela janela novamente.

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     Onde eu trabalho, o café que servem é péssimo e nos cabe fazer nosso próprio cafezinho. Cabe ao primeiro colega que chegar a tarefa de preparar o café. Mas e quando ele acaba? Bom, ai algumas fragilidades da equipe, como a falta de iniciativa, são expostas. Dias atrás, dediquei alguns minutos do meu trabalho a observar isto. Intrigado, percebi que alguns colegas iam e voltavam rapidamente até o café. Foi então que percebi que ele havia acabado e, ao perceber o mesmo, os colegas que iam em direção ao desejado liquido escuro voltavam para suas cadeiras (talvez, na esperança de que alguém tomasse alguma atitude). Bom, levantei, coloquei um café para passar e voltei para a minha mesa. Quando a água terminou de passar, ao invés de colocar o café na térmica e limpar a cafeteira, o primeiro colega que se serviu, pegou seu café e voltou para sua mesa, deixando cafeteira ligada e térmica vazia. Pensei em falar algo, mas desta vez desisti.


     Há muitas, mas muitas pessoas pensando em resolver apenas o SEU problema. O que importa é EU me livrar do meu lixo, independente se vou jogá-lo pela janela ou reciclá-lo. Fundamental é que ele não esteja na MINHA casa. Também pouco importa se meus colegas tomarão café frio ou queimado, o que importa é EU tomar o MEU café!

     Sabem, cheguei a conclusão que algumas pessoas talvez nunca mudem (se tentarmos, ainda nos acharão arrogantes ou malas). Para não pensar que desisti de tentar fazer as pessoas mudarem, achei melhor pensar nelas como paisagens e então surgiu a seguinte frase:



Observar é a melhor ação quando se está diante de uma paisagem. Às vezes, não há o que entender e tampouco conseguiremos mudá-la.
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Limonada na lata!

     Na ultima semana, um assunto polêmico voltou à discussão aqui no sul. Trata-se das "Escolas de Lata", como ficaram conhecidas. Para contextualizar o assunto, em Setembro de 2008, um incêndio atingiu algumas salas de aula da Escola Estadual Ismael Chaves Barcellos. A solução que o governo deu para evitar o atraso nas aulas, que iniciavam em fevereiro, foi de instalar contêineres gigantes transformados em sala de aula de maneira provisória (aquele conhecido "provisório permanente"). Os movimentos de esquerda aproveitaram o momento para alvejar a governadora de críticas. Bom, acontece que, na última semana, a avaliação Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), uma espécie de exame que avalia as escolas de 1º a 4º série da rede estadual, avaliou que uma das turmas que tem suas aulas ministradas no polêmico contêiner foi a quarta melhor do estado! E isto nos leva a uma série de reflexões.

     Boa educação não se constrói mais com infra-estrutura do que com conteúdo. Já ouvi educadores defenderem que não há como as escolas publicas serem superiores às escolas privadas em virtude da diferença de infra-estrutura que elas dispõem. Que bobagem! Não se pode associar boa educação apenas com isso, ou então determinar este fator como o de principal influencia. A diferença fundamental está na qualificação dos professores, no comprometimento dos pais e no plano de ensino da instituição. Esta foi a fórmula utilizada pela escola que obteve o êxito no exame do Ideb.

     Outro ponto importante a se refletir: por que o governo foi tão criticado por utilizar contêineres? Por causa da precariedade? Não deve ser, ou então os críticos desconhecem as condições das escolas do interior. Avaliem vocês mesmos como são as acomodações "enlatadas":



     Não quero dizer que a idéia deve ser adotada para todas as escolas, mas temos de concordar que estes contêineres são muito mais apropriados do que boa parte das escolas estaduais do interior. Bom, se é evidente que há muitas, mas muitas escolas; e, por conseguinte, muitas crianças; em condições infinitamente piores no estado, os movimentos de esquerda não deveriam focar nestas se realmente desejam lutar pelo interesse das crianças? Acontece que precariedade no interior é algo que já nos acostumamos e aprendemos a conviver, porém crianças em "escolas de lata" é novidade, e ai vende espaço na mídia! Deste modo, estes movimentos legitimam que não estão agindo em defesa dos que mais precisam e sim daqueles que lhes renderem o "ibope" desejado. Tanto é que abandonaram a causa quando a mídia começou a noticiar a "meritocracia em ensino público". Percebam como a maioria dos movimentos de esquerda (não todos, pois há muitas pessoas sérias atuando) está presente nos assuntos polêmicos e como deixam de dar espaço (em seus manifestos, em suas panfletagens ou em seus sites) para assuntos ignorados pela mídia. Apesar deste apoio flutuante, muitas pessoas se deixam influenciar e definem opiniões com base no que dizem.

     Por último, temos de analisar a posição desta escola que, apesar da dificuldade, obteve tal rendimento no exame. En tinha um amigo que sempre dizia "Deram-lhe um limão ao invés de uma laranja? Faça uma limonada!"

segunda-feira, 12 de julho de 2010

"A Ignorância é uma dádiva!"

     Em 1998, aos 15 anos, eu trabalhava como estagiário em uma loja de pneus. Lembro com uma riqueza de detalhes surpreendente que, com meu primeiro salário (R$120,00 na época), guardei R$30,00, gastei mais uns R$40,00 em festas e com o restante comprei um radinho. Bem bacaninha ele; da Pionner até. Mas o gasto tinha uma razão.

    Nas cidades do interior, os estabelecimentos comerciais fecham ao meio dia para que os funcionários possam ir almoçar em casa e, não diferente aos demais, o local em que eu trabalhava fazia o mesmo e todos os dias eu pegava minha bicicleta e fazia o trajeto trabalho -> casa, casa -> trabalho. Neste itinerário de alguns minutos (permitam-me a fuga gramatical), restava-me ouvir uma música para escapar da monotonia de ver sempre as mesmas paisagens. Também lembro-me bem que Skank, Biquini Cavadão e Cowboys Espirituais eram as bandas mais tocadas.

     Tinha meus 15 anos e me preocupava apenas com as novidades de trabalhar e estudar à noite. Era tudo novidade. Achava incrível sair tarde do “colégio”, ter um trabalho e ganhar um salário. Os R$30,00 que guardava tinha o objetivo de comprar alguma coisa um pouco mais cara (depois de alguma economia, acabei comprando uma réplica da Ferrari F-50 e da Lamborghini Diablo, as quais guardo até hoje). Essa era a minha vida. Simples assim!

     Hoje, conversava com uma amiga e lembrei-me daquela época. Comentava o quanto eu estava diferente, minha vida havia mudado e como tinha alcançado diversos objetivos (não quero dizer que tenho muito, porém quando não se tem nada, qualquer centavo é uma fortuna). Tomado pela nostalgia não tive outra idéia se não a de fazer uma playlist com as músicas daquela época e ouvi-las enquanto terminava o cronograma de um projeto. Então, fui tomado por uma tristeza grandiosa. Não sei bem se era trsiteza, mas era algo parecido. Talvez uma soma de “missão cumprida”, com “tenho ainda muito pela frente”, mas tudo isso dominado pelo sempre amargo sentimento de “eu era feliz e não sabia”.

     Como explicar o paradoxo de ter tudo que sonhou e conseguir sentir saudades de um passado tão simples? Foi então que percebi estar sentindo falta de ser ignorante.

     Exato, ignorante. Ignorância no sentido de falta de ciência e de saber. Por desconhecer tudo, não me preocupava com nada. Não sabia quanto era um bom salário, logo acreditava que ganhava bem. Também não sabia que existiam outros empregos, logo o meu era ótimo. Tão pouco sabia das condições financeiras da minha fonte empregadora, gerando-me idéia de estabilidade. O que dirá então do entendimento político sobre o meu país, o que me fazia pensar estar morando em um lugar perfeito. Era excluído das discussões familiares, logo, minha família era perfeita. Preço de um apartamento, de um carro ou dificuldades em tê-los também não faziam parte da minha consciência. Enfim, um alienado, porém feliz adolescente.

     Às vezes descubro coisas que não queria saber; que preferiria fazer de conta que não sei, mas geralmente é tarde demais. É simplesmente por isso que detesto fofoca, noticiário midiático, publicidade barata e futilidade cultural, porque geralmente vem associada de uma monte de informação que não irá mudar minha vida em nada e apenas me darão mais informação para diluir e, talvez, pensar a respeito. Não permita que qualquer informação roube algo tão precioso de você como sua ignorância. Abra mão dela apenas para o que realmente valer a pena, pois em breve pode concluir que a perdeu por completo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Brasil é um país de acomodados? II

     Para dar ênfase no que eu havia escrito no ultimo post, recentemente foi definida uma nova forma de divisão dos Royalties de petróleo no Brasil. Pergunto: como o deputado Ibsen Pinheiro, autor da primeira proposta que visava apenas o pré-sal, conseguiu aprovar um texto no senado para re-distribuir todos os Royalties (e não apenas os do pré-sal)? Para facilitar, farei uma questão alternativa:

a) Motim em frente à Petrobrás
b) Criticou publicamente seus colegas
c) Passeata para buscar apoio da população
d) As três alternativas anteriores
e) Atuou na Superestrutura
Gabarito: alternativa E.

     Ibsen sabia que precisava atuar na Superestrutura para que a mudança fosse alcançada. Como ele conhece bem esta camada social (porque está lá ha muito tempo), também sabia que o momento certo era em um ano eleitoral e, por ultimo, que precisaria de um apoio no Senado. Portanto buscou apoio em seu correligionário, o Senador Pedro Simon, e conseguiu uma aprovação histórica (do ponto de vista da mudança provocada e dos interesses que estavam em jogo). Estas votações polêmicas são raras, pois, ao dividir a opinião pública, elas expõem os políticos e por este motivo eles as temem (vide exemplos da reforma tributária, eleitoral e tantas outras que não saem do papel). Em um exercício de suposição, acredito que ao trazer um assunto deste para votação, os colegas de Ibsen devem ter dito “está maluco! Atacando a Superestrutura! Quer dinheiro, crie um imposto novo!”.


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     Nossa política lembra muito aquelas empresas em que as mesmas pessoas trabalham lá há muitos anos. Todos se conhecem e não fazem nada que possam lhes expor. Preferem ficar inertes em sua zona de conforto, até por que não são cobrados de quem lhes consegue o emprego. Quando recebem um novo colega, se o perceberem cheio de motivação e de idéia, logo iniciam o discurso de “aqui não trabalhamos deste jeito...” ou "aqui as coisas são diferentes...", com o intuito de cessar todo seu ânimo, que pode expor o quanto não fazem nada (ou pior, pode obrigá-los a começar a trabalhar). Se você fosse dono desta empresa, e percebesse isso, o que faria? Demitiria os funcionários antigos a fim de criar uma nova postura? Sim? Pois é, pense nisso quando for votar em Outubro!