Sabem, já ouvi diversas vezes que o Brasil é um país de pessoas acomodadas, que deixamos os governantes fazerem o que querem e nem ao menos no manifestamos. Isto até é verdade, mas em partes.
Acontece que o brasileiro sabe como se organizar para protestar. Basta lembrarmos dos sindicatos, do MST, das ONGs e das diversas outras formações coletivas. Podemos concordar ou discordar de suas ideologias e de seus interesses, mas não podemos negar que estes grupos têm potencial de mobilização. Mas o que está errado então? Se de fato conseguimos nos mobilizar a este ponto, por qual motivo os políticos fazem o que querem? Em minha opinião, falta um pouco de filosofia em nossos movimentos de esquerda. E filosofia Marxista!
Por mais estranho que isso possa parecer, falta mesmo um pouco de Marxismo. Acredito que eles até lêem Marx, porém da forma errada. Como o intelectual alemão escreveu sobre a necessidade de revolução nas lutas de classes, eles ignoram o resto (ou agem muitas vezes com se ignorassem) e aplicam esta parte, porém todo bom leitor de filosofia sabe que precisamos analisar o contexto histórico do autor e da sua obra.
Quando Marx escreve isso, a Europa está no auge da Segunda Revolução Industrial e os movimentos sociais emergem a partir da exploração dos trabalhadores (proletários). Estes estão submetidos a condições como uma jornada de 80 hora semanais, por exemplo. É uma realidade extrema. É neste contexto que Marx fala em revolução e a realidade mudou muito neste sentindo. Porém Marx escreveu algo que, se analisarmos com cuidado, veremos o quão atual ainda é: a divisão social.
Quando Marx escreve isso, a Europa está no auge da Segunda Revolução Industrial e os movimentos sociais emergem a partir da exploração dos trabalhadores (proletários). Estes estão submetidos a condições como uma jornada de 80 hora semanais, por exemplo. É uma realidade extrema. É neste contexto que Marx fala em revolução e a realidade mudou muito neste sentindo. Porém Marx escreveu algo que, se analisarmos com cuidado, veremos o quão atual ainda é: a divisão social.
Para o filósofo, a sociedade é dividida em dois grupos: a Estrutura e a Superestrutura. De uma forma bem resumida, no primeiro grupo está o povão e no segundo os governantes. Abaixo, criei um desenho para ilustrar (clique na imagem para ampliá-la):
Marx dizia que a tensão entre Estrutura e Superestrutura torna-se tão forte que a Superestrutura não consegue mais reprimi-la e é arrastada por ela. Sem esta tensão não há mudanças. Ele também dizia que o burguês (dono de empresa), ao dominar os meios de produção (máquinas, matéria prima, etc), teria condições, a partir do excedente de sua produção (a mais-valia ou o lucro mesmo), de influenciar na Superestrutura fazendo-a agir ao seu interesse. Em outras palavras, é o mesmo que dizer: “quem tem grana, consegue influenciar os políticos, as leis e tudo mais!”
Tá, mas o que isso tem a ver com os esquerdistas brasileiros e com o fato de pareceremos acomodados? Tem tudo a ver! Digamos que eu queira trabalhar sete horas por dia. Vamos analisar as duas formas de fazer isso se tornar realidade:
Júnior: O Esquerdista Marxista!
Bom, seguindo a teoria de Marx, já que eu estou na Estrutura, só conseguirei efetivar esta mudança se eu conseguir alterar a Superestrutura, no caso, as leis! Então, preciso convencer o plenário e o senado a aprovar uma nova lei. Depois, convenço o presidente de não vetá-la! Pronto! Assim sete horas diárias serão lei e eu vou trabalhar o quanto queria! Pronto (Marx não disse que era simples, mas disse como fazer)!
Júnior: O Esquerdista Brasileiro!
Bom, seguindo a idéia do Marx, a burguesia é o problema!!! E mais: ela é a origem dos problemas! Então, se os meios de produção passarem para o controle do povo, seremos ouvidos! Teremos voz. Precisamos de uma revolução! Logo, o que temos a fazer é atacar os grandes! Vamos parar as industrias exigindo o regime de sete horas!!! Greve! Isso, uma greve. Vamos paralisar a produção e pressionar os grandes a nos darem o que é de direito.
Perceberam a diferença? O esquerdista brasileiro ataca a própria Estrutura. Assim como o trabalhador defende o seu interesse, o empresário também defende. E quem arbitra (ou pelo menos deveria) sobre o conflito? A Superestrutura! Este é o problema dos esquerdistas brasileiros. Fazem o certo, porém no lugar errado. A quanto tempo se houve falar de Sem Terra? E continuaremos ouvindo, pois, ao invés de invadir o Plenário ou o Senado para forçar a aprovação/votação de leis rígidas quanto à reforma agrária, eles gastam energia atacando proprietários de terra. Enquanto isto, os governantes, lá no topo, olham para estas disputas de terra como espectadores. Outro exemplo é o resultado ridículo das lutas sindicais no Brasil. Férias, décimo terceiro, FGTS não foram conquistas sindicais, foram decretos presidenciais (Getúlio).
Quem não se lembra (ou estudou) do movimento das “Diretas Já” ou dos “Caras Pintadas” reivindicando o Impeachment do ex-presidente Collor? Foram mobilizações que deram resultado! Justamente por terem atacado o alvo certo!
Atacar a Estrutura é atacar o meio social em que estamos e por isso nossos movimentos de esquerda não possuem tantos adeptos. Com muita freqüência, são alvo de fortes críticas. Qualquer pessoa que ataque a Superestrutura será apoiada e transformará "acomodados" em caras pintadas.