terça-feira, 29 de junho de 2010

O Brasil é um país de acomodados?

     Sabem, já ouvi diversas vezes que o Brasil é um país de pessoas acomodadas, que deixamos os governantes fazerem o que querem e nem ao menos no manifestamos. Isto até é verdade, mas em partes.

     Acontece que o brasileiro sabe como se organizar para protestar. Basta lembrarmos dos sindicatos, do MST, das ONGs e das diversas outras formações coletivas. Podemos concordar ou discordar de suas ideologias e de seus interesses, mas não podemos negar que estes grupos têm potencial de mobilização. Mas o que está errado então? Se de fato conseguimos nos mobilizar a este ponto, por qual motivo os políticos fazem o que querem? Em minha opinião, falta um pouco de filosofia em nossos movimentos de esquerda. E filosofia Marxista!

     Por mais estranho que isso possa parecer, falta mesmo um pouco de Marxismo. Acredito que eles até lêem Marx, porém da forma errada. Como o intelectual alemão escreveu sobre a necessidade de revolução nas lutas de classes, eles ignoram o resto (ou agem muitas vezes com se ignorassem) e aplicam esta parte, porém todo bom leitor de filosofia sabe que precisamos analisar o contexto histórico do autor e da sua obra.

     Quando Marx escreve isso, a Europa está no auge da Segunda Revolução Industrial e os movimentos sociais emergem a partir da exploração dos trabalhadores (proletários). Estes estão submetidos a condições como uma jornada de 80 hora semanais, por exemplo. É uma realidade extrema. É neste contexto que Marx fala em revolução e a realidade mudou muito neste sentindo. Porém Marx escreveu algo que, se analisarmos com cuidado, veremos o quão atual ainda é: a divisão social.

     Para o filósofo, a sociedade é dividida em dois grupos: a Estrutura e a Superestrutura. De uma forma bem resumida, no primeiro grupo está o povão e no segundo os governantes. Abaixo, criei um desenho para ilustrar (clique na imagem para ampliá-la):

    
     Marx dizia que a tensão entre Estrutura e Superestrutura torna-se tão forte que a Superestrutura não consegue mais reprimi-la e é arrastada por ela. Sem esta tensão não há mudanças. Ele também dizia que o burguês (dono de empresa), ao dominar os meios de produção (máquinas, matéria prima, etc), teria condições, a partir do excedente de sua produção (a mais-valia ou o lucro mesmo), de influenciar na Superestrutura fazendo-a agir ao seu interesse. Em outras palavras, é o mesmo que dizer: “quem tem grana, consegue influenciar os políticos, as leis e tudo mais!”

     Tá, mas o que isso tem a ver com os esquerdistas brasileiros e com o fato de pareceremos acomodados? Tem tudo a ver! Digamos que eu queira trabalhar sete horas por dia. Vamos analisar as duas formas de fazer isso se tornar realidade:

Júnior: O Esquerdista Marxista!
     Bom, seguindo a teoria de Marx, já que eu estou na Estrutura, só conseguirei efetivar esta mudança se eu conseguir alterar a Superestrutura, no caso, as leis! Então, preciso convencer o plenário e o senado a aprovar uma nova lei. Depois, convenço o presidente de não vetá-la! Pronto! Assim sete horas diárias serão lei e eu vou trabalhar o quanto queria! Pronto (Marx não disse que era simples, mas disse como fazer)!

Júnior: O Esquerdista Brasileiro!
     Bom, seguindo a idéia do Marx, a burguesia é o problema!!! E mais: ela é a origem dos problemas! Então, se os meios de produção passarem para o controle do povo, seremos ouvidos! Teremos voz. Precisamos de uma revolução! Logo, o que temos a fazer é atacar os grandes! Vamos parar as industrias exigindo o regime de sete horas!!! Greve! Isso, uma greve. Vamos paralisar a produção e pressionar os grandes a nos darem o que é de direito.

     Perceberam a diferença? O esquerdista brasileiro ataca a própria Estrutura. Assim como o trabalhador defende o seu interesse, o empresário também defende. E quem arbitra (ou pelo menos deveria) sobre o conflito? A Superestrutura! Este é o problema dos esquerdistas brasileiros. Fazem o certo, porém no lugar errado. A quanto tempo se houve falar de Sem Terra? E continuaremos ouvindo, pois, ao invés de invadir o Plenário ou o Senado para forçar a aprovação/votação de leis rígidas quanto à reforma agrária, eles gastam energia atacando proprietários de terra. Enquanto isto, os governantes, lá no topo, olham para estas disputas de terra como espectadores. Outro exemplo é o resultado ridículo das lutas sindicais no Brasil. Férias, décimo terceiro, FGTS não foram conquistas sindicais, foram decretos presidenciais (Getúlio).

     Quem não se lembra (ou estudou) do movimento das “Diretas Já” ou dos “Caras Pintadas” reivindicando o Impeachment do ex-presidente Collor? Foram mobilizações que deram resultado! Justamente por terem atacado o alvo certo!
     Atacar a Estrutura é atacar o meio social em que estamos e por isso nossos movimentos de esquerda não possuem tantos adeptos. Com muita freqüência, são alvo de fortes críticas. Qualquer pessoa que ataque a Superestrutura será apoiada e transformará "acomodados" em caras pintadas.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Não se atire no fosso das reflexões.

Peço desculpas aos que acompanham o blog, mas os encerramentos de semestre na UFRGS têm se demonstrado cada vez mais consumidores de tempo e, com isso, vão-se os momentos para leituras ou para rabiscar  idéias. Bom, chega de "blog-diário"...

Ultimamente, aprofundei minhas leituras em organizações e em sociologia. Tomei conhecimento sobre os temas em virtude da faculdade, mas é um mundo fascinante. Aproximei-me das obras de autores como Durkheim e Foucault. Também re-li figuras como Weber e Marx. Todos, sem exceção, são fascinantes. São pessoas e pessoas escrevendo sobre eles no mundo acadêmico. Um verdadeiro mundo tal como empreguei o termo. Porém, em todo lugar rico e belo há sempre uma periferia para nos causar desgosto.

Na periferia dos artigos acadêmicos estão as interpretações. Na verdade não. Qualquer pessoa é livre para interpretar um tema como entender. O problema está nas apropriações. Ahh, sim! Estas são revoltantes. Leio absurdos sobre comunismo descritos por esquerdistas que se quer leram algo sobre Marx. Da mesma forma que freqüentemente acesso leituras de economistas classificando e julgando o Marxismo. Também leio acadêmicos defendendo seus cursos como se houvesse uma guerra acadêmica que precisa ser vencida por quem têm o curso mais complexo, antigo e importante. Mas acredito que encontrei a justificativa.

O grande problema é o aprofundamento. Sim, algumas pessoas aprofundaram tanto seus conhecimentos em um tema, que perderam a habilidade de versar sobre os demais. Outros, já estão no sexto doutorado do mesmo curso e nem se lembram mais o que lhes motivou a iniciar os estudos. Desta forma, estas pessoas tornam-se incapazes de aceitar que seus estudos ou seus temas possam estar errados (em qualquer aspecto que for; do complexo ao banal) e travam batalhas com qualquer um que ousar contrária a sua.

De qualquer forma, enquanto me resta serenidade (espero nunca perdê-la), deixo três dicas fundamentais a respeito:
1 - Se é para disputar quem faz a faculdade mais complexo, antigo e importante do mundo, recomendo: inscreva-se em uma competição de arremesso de sementes de melancia por cusparadas. O mérito dos vencedores deve ser o mesmo;
2 - Dê sua opinião, sempre, mas esclareça que ela é sua. Não tente torná-las verdades absolutas, principalmente quando você for criticar algo. Neste caso, faça uma imersão antes;
3 - Por último, e não menos importante, antes de aprofundar suas reflexões sobre um tema, não se esqueça de amarrar uma corda na cintura.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Não se ofenda facilmente

Dias atrás, presenciei uma professora dando um “esporro” em um colega. Ao final da aula, ele veio até mim e disse: "Estou put.. com ela. Fui muito ofendido! Aquela vac... me desmoralizou na frente de todos". Na hora, apenas respondi "Esquece isso. Nem foi tanto assim.", mas, depois, pensando um pouco a respeito, questionei-me: "o que a professora tem a ver com isso?". Nada! Exatamente. Ela não teve nada a ver com o que ele sentia. Vamos lá; tentarei explicar.

Primeiramente, acredito que ninguém tem o poder de ofender ou de magoar outra pessoa e sim nós é que nos ofendemos e nos magoamos. Qualquer pessoa pode influenciar para que você se sinta magoado, mas a decisão é sua. É um processo endógeno e não exógeno! Vamos a um exemplo prático.

Digamos que você esteja caminhando com seus amigos e passe por um bêbado que lhe diz: "seu incompetente, seu burro, seu nada!". Seguramente todos seus amigos irão rir de você e, por sua vez, você pensará "é um maluco mesmo!" e, talvez, até ache graça. Analisando tecnicamente, uma pessoa proferiu palavras agressivas contra você. Ok, vamos a outro exemplo. Agora, digamos que você esteja em uma sala de aula e uma professora lhe fale as mesmas palavras em frente aos seus amigos. Sua reação será a mesma? Já se questionou o por quê?

Seguramente você reagirá semelhante ao meu colega. Isto porque a forma como VOCÊ enxerga um professor é diferente da maneira como vê um bêbado. Não estou sugerindo que devemos tratar ambos da mesma forma (jamais, até porque tenho vários amigos que bebem, hehehe). Brincadeiras a parte, obviamente um professor deve ser mais respeitado do que um bebasso qualquer. Trata-se de uma autoridade moral. Uma pessoa que se dedicou e se esforçou para estar onde está. Porém, quando ela lhe ofende, ela abre mão desta moral e decide agir tal como agiria um bêbado! Coloca-se em linha com ele e é isso que precisamos perceber. Naquele momento, devido ao seu gesto, não podemos continuar olhando para ele e enxergando um professor exemplar, mas sim um bebado maluco. Ele optou por isso e não você!

Muitas vezes isto ocorrerá. Pessoas que tratamos como autoridades (sejam nossos parentes, professores, lideres, amigos e todos os outros) tentarão nos ofender. Ou melhor, fazer com que nos sintamos ofendidos (intencionalmente ou não). Só conseguiremos evitar isso se, no momento da tentativa, pararmos de enxergar a autoridade e perceber que, diante de nós, está se apresentando uma pessoa que seus gestos lhe levaram a perder a moral que conquistou.